Com o tema “Diversidade Brasileira”, a IV Bienal
Brasileira de Design, que acontece pela primeira vez em Belo Horizonte,
coloca em evidência até 31 de outubro, o design produzido em
Minas e do país. Além disso, estimulará o debate sobre a geração de ideias e
conhecimento, a inserção do design na indústria e a profissionalização da
profissão.
Para o reitor da Universidade do Estado de Minas
Gerais (UEMG) e coordenador geral local da IV Bienal Brasileira de Design,
Dijon Moraes Júnior, o estímulo é muito bem-vindo. Segundo ele, o tema começou
a ganhar força e a se profissionalizar no Brasil há cerca de 15 anos e, hoje, o
país já é um “fenômeno” no assunto. “Perdemos apenas para a China e os Estados
Unidos no número de cursos de design: hoje, são 530 cursos em todo o país. Isso
quer dizer que o tema está ganhando cada vez mais importância e que a procura
está aumentando”, ele afirma.
Segundo o reitor da UEMG, o design é também um
grande aliado do desenvolvimento econômico, por seu potencial de agregar valor
a produtos locais. Neste aspecto, ele diz esperar que a IV Bienal Brasileira de
Design, que terá mostras em diversos pontos da capital mineira, seja uma
oportunidade de conscientizar os empreendedores sobre a importância deste
ofício. “O design é uma atividade que possibilita o alto empreendimento e gera
amplas possibilidades. Queremos aproximar o designer do produtor industrial”,
explica.
Doutor em Pesquisa em Design pela Universidade
Politécnico de Milão, autor de vários livros, contemplado três vezes com o
prêmio Museu da Casa Brasileira e premiado também no exterior, Dijon Moraes
concedeu com exclusividade a seguinte entrevista para a Agência Minas:
Esta é a quarta bienal brasileira de design. Como
se deu a escolha de Minas para esta edição?
É a primeira vez que a bienal ocorre em Minas
Gerais. A primeira bienal de design, em 2006, aconteceu em São Paulo. A
segunda, em 2008, em Brasília, e a terceira, em 2010, em Curitiba. Há dois
anos, portanto, o Estado de Minas Gerais se candidatou para realizar a edição
de 2012 do evento e venceu. Acredito que isso tenha ocorrido por Minas ser a
terceira maior economia do Brasil, uma região estratégica, com espaços
adequados e apoio em massa do governo e dos parceiros envolvidos.
O tema deste ano da Bienal é “Diversidade
Brasileira”. Por que esta escolha?
Confesso que fiquei muito feliz com este tema. Sempre
houve uma grande busca pela identidade do design brasileiro. Depois de muitas
reflexões e amadurecimento, chegou-se à conclusão de que a riqueza do design do
nosso país não estava em uma única identidade, mas em sua diversidade. A
diversidade brasileira é uma marca do nosso design, da nossa identidade em
diversos segmentos da indústria e da produção. E isto é um fator positivo, que
enaltece a produção de design no país.
Desta diversidade, quais matizes você destaca como
sendo particularidades do design brasileiro?
O design brasileiro, ao contrário do que vemos em
alguns países mais tradicionais, não tem nenhuma tradição do passado. Ele é um
design livre para o futuro, para se inventar. Em algumas culturas, o design é
muito rígido em termos de estética, de forma. Mas no Brasil, temos a leveza, a
suavidade, que é encontrada em obras como as curvas de Niemeyer por exemplo.
Temos uma abundância de cores e volumes e exploramos isso sem culpa. É um
design colorido, despojado, que tem alegria, frescor e suavidade,
características que você encontra em qualquer lugar do Brasil. Na IV Bienal, é
possível identificar esta particularidade em mostras que vão desde automóveis a
jóias e acessórios. E cada uma dessas peças tem esta brasilidade, que é a nossa
riqueza e nosso diferencial hoje no mercado global.
De onde veio a inspiração para a principal mostra
da Bienal, intitulada “Da Mão à Máquina”?
Esta mostra foi concebida pela curadora da Bienal,
Maria Helena Estrada. Ela propõe mostrar que a riqueza da diversidade
brasileira vai desde o artesanato até a produção industrial, da mais alta
tecnologia. E isso diz muito sobre o Brasil, sobre as realidades distintas do
nosso país, que o design reflete e aproveita. Desta criatividade que vai do
produto mais básico ao mais sofisticado.
Como a iniciativa da Bienal estimula o fazer
artístico e a produção do design em Minas e no Brasil?
Esperamos que a Bienal deixe suas marcas em Minas.
Queremos que ela se torne um fator de estímulo para a consolidação da inserção
do design no parque produtivo mineiro. Porque tanto em Minas quanto no Brasil,
o design ainda não está consolidado; ele não é empregado de forma concisa em
todas as empresas. Algumas aplicam, outras não. Um evento deste porte, com
várias mostras e atividades, faz com que as pessoas vejam de perto, respirem
design. Vamos mostrar cases de sucesso ao empresário e ao consumidor, para que
eles vejam o tamanho do diferencial que o design agrega a um produto.
Como o senhor, como um especialista nesta área,
avalia o posicionamento do design mineiro e do brasileiro hoje, no Brasil e no
mundo?
É um tema muito recente. O design brasileiro
começou a aparecer de forma mais concreta, como uma atividade passível de
produção em série e exportação, de apenas 15 anos pra cá. Por isso, ainda
existe uma lacuna muito grande entre as escolas, os designers e as empresas.
Esta lacuna está começando a se reduzir agora e esperamos que a Bienal seja um
estímulo para reduzir estas distâncias.
A programação da Bienal dedica algumas ações
voltadas também aos próprios designers e estudantes de design. Qual a importância
da profissionalização desta atividade?
Esta é uma grande novidade. Pela primeira vez,
atividades acadêmicas aparecem como destaque na programação da Bienal. Juntamos
a universidade com o parque produtor. Teremos encontros com presença de
designers internacionais, incluindo um grande fórum no Auditório da Escola
Guignard com palestrantes de oito países. Isso é importante, pois aproxima o
designer das empresas, democratiza o assunto e contribui para a qualidade do
trabalho. O design é transversal, passa por diversas áreas do conhecimento, e
por isso exige muito estudo e preparo.
Fonte Agência Minas