Preocupadas com os alertas sobre o risco
de escassez de água própria para o consumo, duas alunas de ensino médio
resolveram unir ecologia e ciência e desenvolveram um projeto para dessalinizar
água do mar por meio de uma bactéria. A intenção das estudantes é que, sem o
sal, a água seja usada para a irrigação, por exemplo, e, no futuro, também para
o consumo humano.
“A grande importância desse projeto é que
o processo é simples e econômico e pode ser aplicado em vários lugares”,
explica uma das autoras da pesquisa, Desireé de Böer Velho, que terminou no ano
passado o ensino médio técnico de química na Fundação Escola Técnica Liberato
Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Aluna da mesma
escola, Ágatha Lottermann Selbach é a outra autora da pesquisa.
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Alunos brasileiros premiados na Isef: destaques da delegação composta
por 32 estudantes, representando 21 projetos (Foto Divulgação) |
Com o trabalho, as duas chegaram à Feira
Internacional de Ciências e Engenharia, cuja sigla em inglês é Intel Isef,
competiram com estudantes de outros países e conquistaram o quarto lugar na
categoria gestão ambiental. Desireé conta que a experiência serviu de incentivo
para seguir a carreira científica e as estudantes vão dar continuidade ao
estudo para tornar a água dessalinizada adequada ao consumo humano. A partir
daí, elas pretendem buscar apoio para aplicar o projeto no dia a dia e até em
escala empresarial.
“Esse projeto me incentivou entrar na
área científica, foi um grande passo. Viemos de escola pública onde não
tínhamos tanto recurso. Agora entrei na faculdade e mudou toda minha vida. Olho
o mundo de outro jeito, me agregou muito em relação ao conhecimento, o fato de
ter viajado e conhecido novas culturas”, destacou Desireé.
O projeto das estudantes de Novo Hamburgo
foi um dos nove premiados na feira que teve a participação de mais de 1,5 mil
estudantes de 70 países, em maio, nos Estados Unidos. Os brasileiros ficaram
com o primeiro lugar entre os países latino-americanos e com o 3º no geral,
atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá.
A coordenadora-geral da Feira Brasileira
de Ciências e Engenharia (Febrace), organização que selecionou parte dos
estudantes para o evento internacional, Roseli Rodrigues Lopes, ressalta que o
sucesso que os brasileiros alcançaram competindo com estudantes de tantos
países mostra que é possível trabalhar o incentivo para a ciência e a
engenharia ainda na educação básica. Ela avalia que esse trabalho deve ser ampliado.
“Precisamos descobrir quem são os talentos, às vezes os jovens estão na escola
e não têm ideia do que é engenharia. Ele não recebe o estímulo e às vezes é um
grande talento”, diz.
Outra pesquisa premiada é a de Túlio
Vinicius Andrade, aluno do 3º ano do ensino médio do Grupo Gênese de Ensino, do
Recife. Ele ficou com o terceiro lugar na categoria ciências sociais e
comportamentais. Por meio da leitura, Túlio percebeu que as doenças que mais
matam no mundo estão ligadas a comportamentos sedentários. As informações
indicavam que esses comportamentos começam ainda na infância e juventude, por
isso, o estudante resolveu investigar a situação das aulas de Educação física
em escolas no Recife e descobriu que os professores da área enfrentavam
dificuldades.
“Identifiquei que há falta de espaço
físico, de materiais e de interesse dos alunos. Adaptei a prática pedagógica do
construtivismo e criei soluções com metodologia de ensino para as principais
dificuldades”, explica. O estudante fez testes com os alunos e, comprovada a
eficácia do trabalho, Túlio passou a dar palestras para professores de Educação
física da rede pública. Após, elaborou um manual que será distribuído aos
professores.
Diante dos desdobramentos das pesquisas,
Roseli Rodrigues Lopes, avalia que a iniciação científica permite novas
perspectivas aos jovens. "Eles acabam tendo uma trajetória acadêmica mais
rápida que a de outros. Vão para a universidade sabendo o que querem e chegam
com mais maturidade. Terminada graduação, muitos seguem para o mestrado",
diz.
Fonte Agência Brasil