sábado, 1 de junho de 2013

Inovação e saúde: cientista brasileiro planeja tetraplégico abrindo a Copa do Mundo de 2014

(Foto Joaquim Soares/Finep)
O cientista Miguel Nicolelis (foto) planeja que, na solenidade de abertura da Copa do Mundo de 2014, um cidadão brasileiro paraplégico seja capaz de levantar-se de uma cadeira de rodas no estádio do Itaquerão, em São Paulo, dar 25 passos e inaugurar com um chute não apenas o evento, como a maior vitória da Neurociência no mundo. "Seria um chute brasileiro para entrar para a história da humanidade", afirmou Nicolelis, emocionado, em recente encontro (21/5/2013), em palestra na Finep.

O movimento só é viável a partir de um estímulo cerebral transmitido ao exoesqueleto (prótese de um esqueleto). O projeto – denominado Andar de Novo – é apoiado pela Finep com cerca de R$ 33 milhões em recursos não-reembolsáveis.

O principal objetivo é demonstrar na prática o potencial da Interface Cérebro-Máquinas (ICMs) para uso clínico em reabilitação motora. Isso será possível por meio da criação da neuroprótese de corpo inteiro com capacidade de restaurar a mobilidade em pacientes paralisados por dano neurológico. Essa neuroprótese será formada por uma ICM que utilizará comandos motores extraídos da atividade elétrica para controlar o corpo.

Saiba como foi a palestra de Nicolelis na Finep



O próximo passo do projeto de Nicolelis é, muito em breve, começar a selecionar e treinar pessoas que tenham potencial para participar da abertura da Copa do Mundo. “Pretendemos começar os testes com o exoesqueleto já em junho ou julho", afirma.

O cientista apresentou seu trabalho à frente do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), também financiado pela Agência Brasileira da Inovação, assim como vários projetos que encabeça.

O resultado da pesquisa de Nicolelis, única no mundo, é fruto de um trabalho de 15 anos que atualmente envolve 170 pesquisadores pensando em um novo modelo de fazer ciência. Mas o que seria esse modelo? “É investir na Educação, dar espaço à criatividade para apostar na única coisa que faz sentido: a busca da felicidade”, diz. E esse cuidado começa no pré-natal, quando podem ser detectados problemas passíveis de diagnóstico, sem o qual tornam-se lesões cerebrais irreversíveis.

Talvez o grande diferencial do cientista tenha sido criar na periferia de Natal (RN), especificamente em Macaíba, um polo de ciência capaz de competir com os grandes laboratórios de neurociência do mundo. Lá são formadas crianças e adolescentes desde os primeiros anos escolares até o final do curso médio. Uma escola que não tem provas “porque o aprendizado está estampado no rosto de cada um”, orgulha-se Nicolelis.

Pesquisas do Ministério da Educação indicam que a evasão escolar é de cerca de 56% no ensino público, enquanto o curso de iniciação científica do programa educacional de Macaíba é de 2%.

De Natal, o paulista Nicolelis ganhou o mundo demonstrando os avanços da neurociência. O mais expressivo dos últimos tempos foi a conexão dos cérebros de dois ratos – um deles no Brasil e o outro fora do país – usando a internet. Foi a primeira interface cérebro-cérebro já feita e a criação do conceito de brainet, espécie de “internet cerebral”.

Na sua pesquisa com ratos, após terem microeletrodos instalados em suas cabeças, os animais passaram a se comunicar por meio da transmissão dos sinais elétricos produzidos por seus neurônios. O estudo, realizado na Universidade Duke, nos Estados Unidos, e no IINN-ELS, foi publicado na revista Scientific Reports.

A equipe liderada por Nicolelis dedica-se a produzir implantes cerebrais para permitir que os paraplégicos andem, além de controlar doenças neurológicas, como Parkinson, reparar desconexões de áreas do cérebro afetadas por lesões, tipo AVC, ou reconectar partes do cérebro interrompidas por acidentes vasculares.

Nicolelis e colegas já fizeram com que macacos tivessem sensações táteis de um braço virtual literalmente controlado pela força da mente. É o tipo de pesquisa que facilitaria a criação de próteses inteligentes, que dariam um feedback táctil das sensações aos pacientes, algo que não acontece com membros artificiais.



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