Por Paulo Motoryn*
Desde o ato da última quinta (13/6/2013)
contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, em que a
violência e a repressão policial viraram notícia em todo o planeta, mais uma
ameaça ronda o sucesso das manifestações organizadas pelo Movimento Passe
Livre: a instrumentalização do povo.
A evidente mudança de postura da imprensa
em relação aos protestos deve ser motivo de desconfiança, não de festa. Isso
porque nos últimos dias, imperou o comentário: “Agora até a grande mídia
defende as manifestações”. Como se isso fosse algo positivo.
Por um lado, a máxima “não é só pelos 20
centavos” conseguiu convencer diversos setores da população a ir às ruas, por
outro, abriu uma questão polêmica: se o aumento da passagem foi só o estopim, o
que mais nos incomoda? Quais são os reais motivos do fim da letargia política
em São Paulo?
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(Foto Arthur Lopes http://bit.ly/12TkvDu) |
É fato, o reajuste do preço transporte só
provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio:
política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem
de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são
reais.
Na sua última edição, Veja contrariou sua
linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo
que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos
sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.
Mas as páginas de Veja só revelam a nova
postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou
evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento
dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade… Falácia.
É evidente que essas questões também são
importantes, mas os jovens que estão nas ruas estão preocupados com questões
muito mais profundas. A juventude está mostrando que não quer compartilhar dos
valores individualistas, consumistas e utilitaristas da geração de seus pais.
O grito dos jovens está longe de bradar
contra os “mensaleiros”, contra a inflação, contra as políticas sociais de
transferência de renda. O movimento é progressista por natureza e agora tem de
saber lidar com uma ameaça feroz: a direitizacão.
O aparelho midiático que serve a esses
interesses já foi acionado. A grande imprensa já está mobilizada para maquiar o
movimento de acordo com um ideário conservador, por isso o povo precisa fazer
seu recado ser entendido. Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas,
Jabores e Pondés.
O que queremos é derrubar as barreiras
entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o
povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com
justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas.
Nada mais. E nada menos.
Vamos à luta!
*Fonte Revista Vaidapé