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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

“O branco não precisa responder pela sua raça”

Lia Schucman aponta os privilégios simbólicos e materiais dos brancos na sociedade brasileira

Thais Paiva (13/8/2015) Carta Educação


Psicóloga buscou analisar construções acerca da ideia de raça em São Paulo

O que significa ser branco em nossa cultura? Doutora em Psicologia Social pela USP, Lia Vainer Schucman buscou analisar esta e outras construções acerca da ideia de raça na cidade de São Paulo. Em entrevista a Carta Educação, a pesquisadora falou sobre sua tese de doutorado – transformada em livro – “Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana”, apontando os privilégios simbólicos e materiais dos brancos e os possíveis caminhos para uma sociedade menos racista.

Carta Educação: Qual foi o objeto de análise da sua pesquisa?
Lia Vainer Schucman: Tentei olhar para uma coisa que raramente se olha: quais são os privilégios que o branco tem com o racismo. Porque, geralmente, os estudos sobre raça olham para o negro ou para o indígena. Como se eles fossem o outro e o branco não tivesse raça. Então a ideia era olhar para o branco e entender quais eram as características dessa identidade racial. A raça é uma construção social do século XIX e que tem um princípio básico: a ideia de que o fenótipo de alguém vai ter uma integridade moral, intelectual, psíquica e estética. Então eu pequei essa construção e fui ver como ela funciona para os brancos. Entrevistei quase 40 brancos de todas as classes sociais, de mendigo a fazendeiros de café, e percebi que essa ideia racial ainda faz efeito. Há uma ideia de que o branco, o que vem da Europa, é mais civilizado, enquanto o negro é mais primitivo. Isso permeia vários discursos. O dos instrumentos musicais, por exemplo. Eles dizem que o violino [instrumento europeu] é mais complexo, sofisticado do que os instrumentos da cultura negra. Então há essa ideia de que o fenótipo branco representa uma civilização superior.

CE: E o que descobriu sobre os privilégios do branco?
LVS: Uma das características mais marcantes da branquitude é que o sujeito branco tem uma ideia de que ele é normal. Ou seja, ele é a norma e o outro, diferente. Logo, o branco já tem, de partida, um privilégio muito grande: ele não carrega sua raça. Se ele roubar, vão falar ‘aquele homem, o João, roubou a loja’. Nunca será ‘os brancos’ roubaram a loja. Enquanto que em outros grupos racionalizados – índios, negros, etc. –, o indivíduo sempre carrega um grupo. O branco não precisa responder pela sua raça. Ninguém pergunta para uma pessoa só porque ela é branca o que acha do Bush, mas pergunta para um negro só porque é negro o que acha do Obama.

CE: Em seu trabalho, você fala em letramento racial. O que seria?
LVS: É o que cada um de nós brancos podemos fazer para responder ao racismo. Então é um conjunto de práticas, uma forma de perceber e responder as tensões das hierarquias raciais da estrutura social. Uma dessas coisas seria o branco reconhecer que ele tem privilégios. Porque, por muito tempo, brancos antirracistas lutaram pela igualdade e se reconheceram como iguais, mas isso não ajudou a acabar com o racismo. Oura coisa é reconhecer o racismo como um problema social atual e não somente como um legado histórico. Ou seja, reconhecer que todo dia a gente legitima o racismo quando atravessa a rua quando vê um negro, quando contrata um branco em detrimento de um negro, quando tem preterimento de uma raça por outra nas relações afetivas. Tem que reconhecer essa hierarquia, nem tudo é mérito, tem muito privilégio. E, individualmente, é preciso de uma vigilância porque o racismo prega peças na gente. Entrevistei um mendigo branco e ele me contou que, sem pedir dinheiro, ele ganha mais que os colegas negros. É como se a estrutura racial fosse tão forte a ponto das pessoas acharem que o branco não pode estar naquele lugar e ajudam. Já para o negro, é natural.


domingo, 23 de março de 2014

Ciência e tecnologia: testes preliminares da vacina brasileira contra HIV têm bons resultados

Testes preliminares de uma possível vacina brasileira contra o HIV, feitos com macacos Rhesus no Instituto Butantan, apresentaram resultados melhores do que o esperado. A resposta imunológica dos primatas foi de 5 a 10 vezes mais intensa do que a registrada em camundongos, segundo o médico Edecio Cunha Neto, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador do estudo.
Macaco Rhesus: vacina aumenta
resposta imunológica no primata
(foto Instituto Butantan)

A vacina desenvolvida pelo grupo de Cunha Neto contém 18 fragmentos do vírus da Aids. A intenção dos pesquisadores é usar esses fragmentos para despertar o sistema imunológico contra o HIV. “É como se estivéssemos ajudando o sistema imune a conseguir identificar o vírus logo que ele entra no organismo”, explica.

Os pesquisadores aplicaram nos macacos três doses da vacina – uma a cada 15 dias – e viram que o sistema de defesa dos animais, mais semelhante ao humano, apresentou forte resposta. “Fizemos testes para calcular o número de células ativadas em resposta à vacina”, conta.

Já no primeiro experimento com os macacos 3,2 mil células de defesa em cada milhão se tornaram ativas contra o HIV. Em 40 testes feitos com camundongos, o melhor resultado foi a ativação de 330 células em cada milhão.

Os resultados animadores reacendem a esperança de que, após várias tentativas internacionais frustradas, que consumiram bilhões de dólares, se consiga um imunizante eficaz e seguro contra o HIV.

Fonte Revista Pesquisa, da Fapesp



sábado, 25 de janeiro de 2014

Cidadania: novo modelo de rolezinho estimula doação de sangue


Na carona dos rolezinhos, que têm dividido a opinião de brasileiros, um grupo de 15 pessoas de Brasília decidiu criar um movimento, nos mesmos moldes, para mobilizar pessoas dispostas a doar sangue. Apenas na manhã de hoje (25/1/2014), 20 pessoas conseguiram fazer a doação e aumentar o estoque do hemocentro da capital, que tem baixa neste período do ano.

A mobilização, iniciada a partir de uma página no Facebook criada pelo grupo, conseguiu atrair mais de 200 pessoas na última quarta-feira (22), mas apenas 70 cumpriam todos os requisitos para a doação. Com o lema Bora ali, bora? Fazer um rolezinho no Hemocentro de Brasília”, o grupo reuniu mais de 500 participantes que acompanham as campanhas pelo site.

“Não é uma crítica [aos rolezinhos]”, explicou Paula Matos, organizadora da campanha. “Nossa ideia é transformar esse movimento em uma ação para o bem. Esta é uma época de férias, muitos doadores tradicionais viajam e os estoques de sangue ficam baixos”, completou.

Segundo Paula Matos, a maior parte das pessoas que aderiu já tinha doado sangue. Para quem se dispôs à primeira experiência, o grupo organizou informações na página do Facebook, baseadas nas orientações do hemocentro, e contou com as equipes do próprio órgão no local.

A campanha atraiu muitos jovens, como o estudante Euler Idelfonso, de 18 anos, que nunca havia doado. “Não estou com medo. Li as orientações”, garantiu, enquanto aguardava sua vez de doar. Ele disse que chamou outros amigos, mas como muitos decidiram sair na noite de ontem (24), não puderam participar. “Eu já queria doar e ontem fez muito frio. Isso me ajudou a ficar em casa e a me preparar”.

De acordo com assessores do hemocentro, apesar de a mobilização ser bem-vinda, as doações não estão sendo contabilizadas como resultado de uma campanha. Como o volume de doações está sendo contabilizado como iniciativas individuais voluntárias, o órgão não consegue apontar quanto o movimento foi responsável por aumentar o estoque de sangue.

No Rio de Janeiro, outro grupo de pessoas organiza movimento semelhante, marcado para o próximo dia 1º de fevereiro. A iniciativa fluminense, em uma página do Facebook, tenta atrair voluntários com frases de protesto como Aqui não tem discriminação e racismo. Os organizadores justificam o rolezinho do Hemorio  como um apoio à galera que está nos hospitais, contra toda forma de opressão e as doenças que atingem negros, pobres, brancos ou ricos, especialmente contra "a brutal e covarde ação diária da morte no Brasil e no mundo”.


Para doar, o hemocentro orienta as pessoas a se alimentar bem. O doador precisa ter entre 16 e 67 anos, não estar fazendo uso de medicamentos, pesar acima de 50 quilos, ter dormido mais de seis horas, não praticar exercícios físicos ou ingerir bebida alcóolica nas 12 horas anteriores à doação.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Inovação e saúde: pastilha de vaso sanitário pode ajudar a diagnosticar o diabetes

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que dez milhões de brasileiros tenham diabetes. E muitos desses nem sabem que são portadores da doença crônica. Uma das equipes participantes do Grand Prix Senai de Inovação, que está sendo realizado em São Paulo, de sábado até o final desta tarde de quarta (23 a 27/11/2013), apresentou uma proposta para modificar essa realidade.

Clique aqui para saber as novidades apresentadas no evento

O grupo criou uma pastilha de vaso sanitário, do tipo aromática. Mas, além de deixar o banheiro com cheiro agradável, é feita de substância que, em contato com a urina, muda de cor e mostra o grau de glicose no sangue. A invenção pode ser útil aos diabéticos – que substituiriam o furo no dedo – e também como alerta a quem eventualmente possa ter a doença sem saber.

O Grand Prix Senai de Inovação é inspirado em modelo sueco e reúne seis equipes com sete integrantes cada. Elas têm 72 horas consecutivas para buscar soluções para questões relacionadas a três grandes desafios do mundo moderno: Envelhecimento da População, Desastres Ambientais e Mega Eventos. As tarefas envolvem as áreas de saúde humana, mobilidade urbana, segurança e meio ambiente.

Quem não pode visitar o Grand Prix, que acontece no WTC, em São Paulo, durante a Open Innovation Week, consegue acompanhar a produção de todas as ideias, votar nas preferidas e dar sugestões para incrementá-las. Tudo isso é feito no site do Grand Prix Senai de Inovação. Basta criar uma senha de acesso.


Fonte Portal Indústria


sábado, 16 de novembro de 2013

Tecnologia em alimentos: produção de uva sem sementes aumenta no Brasil

O produtor de uva no Brasil terá à sua disposição, a partir deste mês, mais uma variedade sem sementes da fruta. A Embrapa vai lançar a variedade Isis, que passará a ser o quinto tipo de uva sem sementes criada a partir de pesquisas do órgão. As outras são Clara, Linda e Morena, lançadas em 2003. No ano passado foi criada a variedade Vitória.

Uvas arroxeadas, como esta crimson,
têm na casca o resveratrol, um composto
fenólico cardioprotetor (Foto divulgação)
Alexandre Hoffmann, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, explica que todas elas foram desenvolvidas em Petrolina, Pernambuco, e permitem que o produtor possa contar com uma tecnologia gerada no próprio país. "O Brasil, como é vanguarda em diversas áreas de tecnologia, também é vanguarda nas variedades de uvas tanto com sementes quanto sem sementes, disponíveis aos produtores", disse à Agência Brasil.

O técnico informa que o aumento do consumo de uvas sem sementes no Brasil provocou o crescimento da produção da fruta na região de Petrolina. Antes desse movimento, segundo ele, a maior parte da produção se destinava à exportação. "Houve um aumento da demanda e da concorrência no mercado externo. Isso fez com que aumentasse a oferta no mercado brasileiro. Isso significa a possibilidade de o consumidor, hoje, ter acesso a um produto de maior qualidade que há poucos anos, quando só encontrava com alto preço e importado".

Segundo Hoffmann, em 2012 foram produzidas no Brasil 1,5 milhão de toneladas de uvas com e sem sementes, sendo 600 mil toneladas destinadas ao consumo in natura. No caso das chamadas uvas de mesa, há produção também na Bahia, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.

Com o aumento de produção, além do acesso a um produto de maior qualidade, o consumidor no Brasil passou a encontrar com mais facilidade nos mercados uma fruta considerada importante no combate a alguns tipos de doenças.

A chefe do Serviço de Nutrição do Instituto Nacional de Cardiologia, Andréa Damazio, diz que todas as qualidades de uvas são ricas em vitamina C e A, potássio e fibras. Por isso, é classificada de alimento funcional, com propriedades que favorecem o organismo e podem ser usadas para combater ou evitar doenças.

"O potássio é importante para evitar cãibras e para manter a pressão arterial normal. A vitamina A é importante para a visão, a constituição da pele, e é um antioxidante importante. A vitamina C está ligada ao combate a infecções e a resfriados. As fibras são importantes para o bom funcionamento intestinal. As propriedades antioxidantes combatem os radicais livres, o envelhecimento precoce e têm ação anticancerígena. As uvas arroxeadas têm ainda mais substâncias ativas que as verdes, como carotenos, catequinas, antocianina e flavonoides", explicou.

Andréa esclarece ainda que uvas do tipo arroxeadas, como a crimson, que também é uma qualidade sem semente produzida em Petrolina, mas de origem estrangeira, têm na casca o resveratrol, um composto fenólico cardioprotetor. "Devido à sua ação antiagregação plaquetária e redutora de triglicerídeos, e também da ação antioxidante, diminuindo a incidência de Alzheimer e reduzindo a oxidação das gorduras e as placas de arteriosclerose".

A nutricionista disse ainda que o indicado é consumir, por dia, uma porção de 100 gramas da fruta, o equivalente a 10 unidades.


Fonte Agência Brasil


Inovação e saúde: pesquisa de Nicolelis faz com que macacos movimentem braços virtuais com força do cérebro

Foto neuroanthropology 3/2011
Dois macacos aprenderam a controlar movimentos de ambos os braços de um corpo virtual usando apenas a atividade elétrica do cérebro. A descoberta está publicada na revista Science Translational Medicine e faz parte de estudo conduzido pelo laboratório do pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis.

Para permitir que os macacos controlassem dois braços virtuais, os neurocientistas registraram simultaneamente a atividade elétrica de quase 500 neurônios, distribuídos por diversas áreas do cérebro de cada um dos animais. Essa amostragem representa o maior número de neurônios registrados e descritos na literatura até o momento, segundo o laboratório.

De acordo com a equipe do pesquisador, a descoberta representa “um avanço considerável nos esforços de se desenvolver neuropróteses que possam restabelecer movimentos bimanuais em pacientes portadores de graus devastadores de paralisia”. Os movimentos bimanuais são imprescindíveis em ações do cotidiano, como digitar em um teclado ou abrir uma lata.

O estudo, conhecido como interfaces cérebro-máquina, foi iniciado pelo Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke, nos Estados Unidos, no início dos anos 2000. No entanto, até agora todas as aplicações de interfaces cérebro-máquina envolviam o controle de apenas um braço artificial.

De acordo com o autor do estudo, Miguel Nicolelis, futuras aplicações das interfaces cérebro-máquina criadas para restaurar a mobilidade de pacientes paralisados terão que incorporar o controle de múltiplos membros – superiores e inferiores – para realmente beneficiar a população.

No estudo, a equipe investiga como registros da atividade elétrica de neurônios podem servir como fonte de sinais para o controle de movimentos em um corpo virtual. Os macacos foram treinados em um ambiente de realidade virtual no qual eles podiam visualizar, em uma tela de computador colocada à sua frente, braços e mãos virtuais, de um “avatar” de macaco. Durante o treinamento, os animais foram encorajados a colocar as mãos virtuais dentro de alvos específicos que apareciam na tela para a execução de uma tarefa bimanual.

Na primeira etapa da pesquisa, os macacos utilizaram dois joysticks para controlar os movimentos dos braços e das mãos virtuais. Em seguida, os animais aprenderam a usar apenas a atividade elétrica dos cérebros para moverem os membros virtuais sem que para isso precisassem mover os seus próprios braços. À medida que os animais melhoravam o controle mental dos movimentos dos braços virtuais, os cientistas observaram um alto grau de plasticidade cerebral em múltiplas áreas do cérebro desses animais.

Os resultados sugerem que os cérebros dos animais incorporaram os braços virtuais do "avatar" como uma extensão do corpo.

Os resultados do estudo têm sido incorporados no projeto Andar de Novo, uma colaboração internacional que vai construir o primeiro exoesqueleto robótico de corpo inteiro controlado por uma interface cérebro-máquina. A promessa dos pesquisadores é fazer com que um cidadão brasileiro paraplégico levante-se de uma cadeira de rodas para dar 25 passos e inaugurar com um pontapé a Copa do Mundo de Futebol, no dia 12 de junho de 2014. O cientista já apresentou a simulação do chute inicial em uma rede social.

O projeto Andar de Novo é apoiado pela Agência Brasileira de Inovação, antiga Finep, com cerca de R$ 33 milhões em recursos não reembolsáveis, que estão sendo liberados em etapas. A última parcela está prevista para o começo de 2014.

As pesquisas são feitas no Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra, localizado em Macaíba, na periferia de Natal, e na Universidade de Duke, onde Nicolelis é pesquisador.


Fonte Agência Brasil


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Saúde: Fiocruz dá dicas sobre o uso correto de medicamentos

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está promovendo a cartilha Uso Correto de Medicamentos.

Nela, são apresentados, em 13 tópicos, ensinamentos e conselhos sobre receita, como tomar e onde guardar os medicamentos e o que fazer com os remédios vencidos.

Clique aqui é acesse a cartilha

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Stiglitz: É hora de questionar as patentes

Por Joseph Stiglitz | Tradução: Cristiana Martin

No cartaz: “Pessoas antes das patentes. Projeta o acesso aos medicamentos acessíveis”

Em meio à guerra contra a desigualdade, nos acostumamos tanto com más notícias que quase entramos em choque quando surge algo positivo. E depois que a Suprema Corte dos EUA decidiu que gente rica e grandes corporações têm o direito constitucional de comprar as eleições, quem esperaria que este tribunal produzisse alguma notícia boa? Mas uma decisão, ao fim do primeiro semestre, resultou em algo mais precioso que somente dinheiro: o direito de viver.

À primeira vista, a ação da Association for Molecular Pathology (Associação para Patologias Moleculares) contra a corporação Myriad Genetics parece um mistério científico. A corte decidiu, sem unanimidade, que os genes humanos não podem ser patenteados – embora o DNA sintético, criado em laboratório, possa.

Mas o buraco é muito mais embaixo: as bases e os problemas desta questão são muito mais profundos do que é comumente entendido. Foi uma batalha entre aqueles que privatizariam a boa saúde, tornando-a um privilégio a ser desfrutado na proporção da riqueza, contra os que veem a saúde como um direito de todos – e um componente central de uma sociedade justa e de uma economia que funciona direito. De uma maneira ainda mais ampla, tem a ver com a maneira pela qual a desigualdade está definindo a política, as instituições legais e a saúde da população.

Diferentemente das batalhas amargas entre Samsung e Apple, nas quais os juízes, enquanto mostram-se pretensamente equilibrados parecem na verdade sempre estar a favor do time da casa, este caso foi maior que apenas uma grande batalha entre gigantes corporativos. É uma lente de aumento, por meio da qual podemos enxergar os efeitos perniciosos e de longo alcance da desigualdade; qual o sentido de uma vitória sobre o comportamento normal das corporações; e – não menos importante – o quanto ainda ariscamos perder nestas batalhas.

É evidente que a corte e os partidos não enxergam os problemas desta maneira em seus argumentos e decisões. A Myriad Genetics, uma empresa originária de Utah, tinha isolado dois genes humanos – BRCA1 e BRCA2. Eles são importantes porque podem conter mutações capazes de significar uma pré-disposição ao câncer de mama. Conhecer sua presença é crucial para diagnósticos em fase inicial, e também para prevenção. A Myriad Genetics já tinha obtido as patentes para esses genes. O fato de “possuir” os genes deu a ela o direito de privar outras companhias de testá-los. A grande questão desta disputa era aparentemente técnica: quando isolados, genes que podem surgir naturalmente são algo que possa ser patenteado?

Mas as patentes têm implicações devastadoras também no mundo real, uma vez que elas mantém o preço dos diagnósticos extremamente alto. Testes genéticos podem ser realizados a custo baixo. Uma pessoa pode ter todos os seus 20 mil genes sequenciados por aproximadamente 1.000 dólares – para não falar de testes muito mais baratos, para patologias específicas. A Myriad, no entanto, cobrava cerca de US$ 4.000 pelo teste de apenas dois genes. Cientistas argumentaram que não havia nada inerentemente especial ou superior nos métodos da Myriad – eles simplesmente examinavam os genes que a companhia alegava possuir, e o fazia apoiada nos dados que não estavam disponíveis às outras, por conta de suas patentes.

Horas após a Suprema Corte ter decidido em favor dos queixosos – um grupo de universidades, pesquisadores e advogados de pacientes, representados pela União das Liberdades Civis Americanas (American Civil Liberties Union) e pela Fundação da Patente Pública (Public Patent Foundation) –, outros laboratórios rapidamente anunciaram que também começariam a oferecer os exames para os genes do câncer de mama. Isso deixou claro que a “inovação” da Myriad era identificar genes existentes e não desenvolver um exame para eles (a Myriad não cessou de lutar neste caso e ainda moveu duas novas ações judiciais neste mês que visam impedir as companhias Ambry Genetics e Gene by Gene de realizar seus próprios exames de BRCA, sob o argumento de que violam outras patentes que supostamente detém).

Não deveria ser muito surpreendente o fato de a Myriad fazer todo o possível para evitar que a receita proveniente desses exames sofresse concorrência. Depois de se recuperarem parcialmente de uma queda de aproximadamente 30%, logo após a decisão da corte, as ações da companhia ainda continua cerca de 20% abaixo do que eram. A empresa possuía os genes e não queriam ninguém invadindo sua propriedade.

Ao obter a patente, a Myriad, como a maioria das corporações, parecia mais motivada pela maximização dos lucros do que por salvar vidas. Se realmente estivessem preocupadas com este segundo aspecto, ela poderia e oferecer exames menos caros, além de encorajar outras companhias a desenvolver exames melhores, mais precisos e mais baratos. Sem surpresa, a companhia alegou que suas patentes, que permitiram preços monopolísticos e práticas excludentes, eram essenciais para incentivar futuras pesquisas. Mas quando os efeitos devastadores destas patentes ficaram claros e ela permaneceu inflexível no exercício dos direitos de seu monopólio, as pretensões de que agia em favor do bem comum não foram mais capazes de convencer.

A indústria farmacêutica, como sempre, alegou que sem a proteção de patentes não haveria incentivos para pesquisas – portanto, todos perderiam. Procurei a argumentação de um expert (pro bono) junto à corte. Ele explica por que os argumentos da indústria estão errados e por que estas patentes, e outras similares, na verdade impediram a inovação, ao invés de fomentá-la. Outros grupos que apresentaram argumentos a favor dos pleiteantes, como a Associação Norte Americana de Aposentados (AARP), apontaram que as patentes da Myriad impediam os pacientes de obter uma revisão de seus exames ou mesmo uma confirmação de diagnóstico. Recentemente, a Myriad comprometeu-se a não impedir estes exames – um compromisso revertido ao mover ações judiciais contra a Ambry Genetics e a Gene by Gene.

A Myriad negou o exame a duas mulheres, ao rejeitar o seguro de saúde delas – segundo os pleiteantes, pelo fato de o valor do reembolso ser muito baixo. Outra mulher, após uma rodada de exames da Myriad, foi obrigada a tomar decisões agonizantes sobre fazer uma única ou dupla mastectomia ou ter seus ovários removidos, com completa falta de informação. O custo de um exame adicional de mutação de BRCA era inacessível (a Myriad cobra US$ 700 a mais por informações que as orientações nacionais dizem que devem ser fornecidas aos pacientes). E a revisão dos exames era impossível devido às patentes da Myriad.

A boa notícia que vem da Suprema Corte é que, nos Estados Unidos, os genes não poderiam ser patenteados. De certa maneira, a corte devolveu às mulheres algo que elas pensavam que já tinham. Isto teve duas grandes implicações práticas: uma é que agora pode haver competição para o desenvolvimento de exames mais precisos e menos caros para o gene. Poderemos novamente ter um mercado competitivo movendo a inovação. A outra é que mulheres pobres terão chances mais igualitárias de vida – neste caso, de diagnosticar o câncer de mama.

Mesmo sendo extremamente importante, esta vitória é apenas um fragmento do cenário de propriedade intelectual que é pesadamente definido pelos interesses corporativos – frequentemente norte-americanos. Os Estados Unidos tentaram aplicar seu regime de propriedade intelectual a outros países, através da Organização Mundial do Comércio (OMC) e de outros acordos bilaterais e multilaterais de comércio.

Atualmente, o mesmo objetivo é perseguido por meio do chamado Acordo Estratégico Trans-Pacífico de Associação Econômica (“Trans-Pacific Partnership”). Acordos de comércio são, teoricamente, um importante instrumento de diplomacia: a integração no comércio promove outros acordos, em outras dimensões. Mas as tentativas do escritório de representação do comércio dos Estados Unidos de convencer os outros estão voltadas para os que consideram os lucros corporativos mais importantes do que a vida humana. Isto assinala o posicionamento internacional estadunidense: o estereótipo do norte-americano estúpido.

O poder econômico normalmente fala mais alto do que valores morais. Em muitas instâncias nas quais os interesses corporativos americanos prevalecem, em relação à propriedade intelectual, nossas políticas ajudam a aumentar a desigualdade no exterior. Na maioria dos países é muito parecido com os Estados Unidos: as vidas da população mais pobre são sacrificadas no altar dos lucros corporativos. Mas mesmo naqueles onde, digamos, o governo proveria um exame como o da Myriad com preços acessíveis para todos, há um custo: quando um governo paga preços de monopólio por exames médicos, ele gasta dinheiro que poderia ser gasto para pagar o salvamento de outras vidas.

O caso da Myriad representou a materialização de três mensagens-chave de meu livro O Preço da Desigualdade. Primeiro, argumento que a desigualdade social foi um resultado não somente das leis econômicas, mas também de como formatamos nossa economia – por meio da política, incluindo quase todos os aspectos no nosso sistema legal. Aqui, é nosso regime de propriedade intelectual que contribui desnecessariamente à forma mais grave de desigualdade. O direito à vida não deveria estar subordinado à possibilidade de pagar por ele.

O segundo é que alguns dos aspectos mais perversos de criação de desigualdade em nosso sistema econômico são um resultado de rent-seeking [busca de renda]. São lucros e desigualdade gerados pela manipulação social, ou das condições políticas, para obter um pedaço maior da fatia de bolo da economia – ao invés de fazer o bolo crescer. E a parte mais injusta desta apropriação de riqueza ocorre quando os lucros de quem está no topo são gerados às custas de quem está na base. Os esforços da Myriad satisfaziam ambas condições: os lucros que a companhia auferia pela cobrança dos exames não adicionavam nada ao crescimento e ao dinamismo da economia e, simultaneamente, diminuíam a riqueza dos que não podiam pagar por eles.

Enquanto todos os segurados contribuíam para os lucros da Myriad – os “premiums” tinham que subir de categoria e milhões de norte-americanos de média renda e sem seguro tinham que pagar os preços monopolísticos da Myriad – os dessegurados na base da pirâmide eram os que tinham que pagar os preços mais altos. Com o preço inacessível do exame, foram eles que enfrentaram maior risco de morte precoce.

Os defensores dos direitos de propriedade intelectual dizem que este é simplesmente o preço que temos que pagar para produzir inovação que a longo prazo salvarão vidas. Seria uma troca: a vida de mulheres relativamente pobres hoje versus a vida de muitas outras mulheres, em algum momento do futuro. Mas esta alegação está errada em vários aspectos. Neste caso em particular, é especialmente errado pelo fato de que havia grandes chances de estes dois genes serem isolados (“descobertos”, na terminologia da Myriad) sem muita demora, como parte do projeto global “Projeto Genoma Humano”.

Mas é errado em outros aspectos também. Pesquisadores genéticos argumentaram que esta patente impedia o desenvolvimento de melhores exames e também interferia no avanço da ciência. Todo o conhecimento é baseado em conhecimentos anteriores. Se eles tornam-se menos acessíveis, a inovação fica comprometida. A própria descoberta da Myriad – como qualquer outra ciência – usou tecnologias e ideias que também foram desenvolvidas por outras companhias. Se estes conhecimentos prévios não estivessem disponíveis publicamente, a Myriad não poderia ter feito o que fez

E este é o terceiro grande tema. Chamei meu livro de O preço da desigualdade para enfatizar que ela não é apenas moralmente repugnante mas também tem custos materiais. Quando o regime legal que governa os direitos de propriedade intelectual é precário, ele facilita o rent-seeking – e o nosso regime é precário, embora esta e outras decisões recentes da Suprema Corte conduziram a um regime que já é melhor do que poderia ser. E o resultado é que existe, na verdade, menos inovação e mais desigualdade.

Na verdade, um importante insight de Robert W. Fogel, historiador econômico e ganhador de um prêmio Nobel que morreu no mês passado, foi que a sinergia entre melhoras na saúde e a tecnologia são responsáveis por uma grande parte da explosão do crescimento econômico desde o século XIX. É por isso que os regimes de propriedade intelectual que criam rendas monopolistas e bloqueia o acesso à saúde provocam desigualdades e dificultam o crescimento de forma generalizada.

Existem alternativas. Advogados de direitos da propriedade intelectual têm superestimado seu papel de promotora da inovação. A maioria das inovações-chave – das ideias básicas que levaram aos computadores aos transistores, lasers ou a descoberta do DNA – não foram motivadas por lucros financeiros. Foram provocadas pela busca do conhecimento. É evidente: recursos precisam estar disponíveis.

Mas o sistema de patentes é apenas uma maneira, e frequentemente não é a melhor, de prover esses recursos. As pesquisas financiadas pelos governos, fundações e o sistema de premiações (que oferece um prêmio a quem faz a descoberta e depois a torna amplamente acessível usando o poder dos mercados para benefícios reais) são alternativas, com maiores vantagens e sem as desvantagens do aumento de desigualdades do atual sistema de direitos de propriedade intelectual.

O esforço da Myriad para patentear o DNA humano foi uma das piores manifestações das desigualdades no acesso à saúde e das sociais nos Estados Unidos. O fato de a decisão da Suprema Corte ter mantido direitos e valores preciosos é motivo para um breve alívio. Mas é apenas uma vitória na grande luta por uma sociedade e economia mais igualitárias.



terça-feira, 16 de julho de 2013

Do Estadão: número de médicos não segue avanço de infraestrutura

Nos últimos cinco anos, a infraestrutura de saúde no Brasil cresceu em ritmo mais acelerado do que o número de médicos que atendem a população. No período, o total de equipamentos de saúde registrados pelo governo federal teve alta de 72,3%. O número de leitos hospitalares subiu 17,3% e o de estabelecimentos de saúde, 44,5% no Brasil. A oferta de médicos, porém, cresceu apenas 13,4% - ou seja, menos do que os principais índices de infraestrutura de saúde.

Os dados dizem respeito às redes pública e privada e foram compilados pela reportagem com base no sistema DataSUS, banco de dados oficial do Ministério da Saúde que contém as informações de todos os estabelecimentos registrados no órgão, como hospitais, consultórios, clínicas e postos de saúde. Entre os equipamentos relacionados no levantamento, constam qualquer tipo de aparelho de saúde existente nos locais, como raio X e endoscópio.

Os números do DataSUS mostram que, de fato, os equipamentos de saúde continuam concentrados nos Estados mais ricos - São Paulo, por exemplo, tem três vezes mais equipamentos por habitante do que o Maranhão. Entretanto, os locais onde houve o maior crescimento nos equipamentos de saúde registrados pelo DataSUS foram os Estados do Norte - Roraima, Rondônia, Acre e Pará mais do que dobraram a quantidade de aparelhos desde 2008.

As entidades médicas, no entanto, defendem que não há falta de profissionais. O principal problema, segundo os representantes de classe, é a falta de uma carreira estruturada para os médicos na rede pública, além da necessidade de melhoria nas condições de trabalho nos locais mais remotos.

Críticas
Cid Célio Jayme Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), afirmou que o aumento numérico verificado não significa uma infraestrutura mais desenvolvida nessas regiões. "Um dos principais problemas, que vale tanto para número de médicos quanto para a estrutura, é a distribuição desigual", disse. "Os hospitais entre a região da Avenida Paulista até o Jabaquara têm mais tomógrafos do que a França inteira. Enquanto isso, em alguns bairros na zona leste da cidade não há nenhum."

O dirigente, um dos líderes do protesto realizado por associações médicas que reuniu cerca de 5 mil em São Paulo no dia 3, manteve a posição da entidade de que o problema não é a carência de médicos. "Quase um terço dos médicos do País está em São Paulo, e isso não garante a qualidade de atendimento no Estado", afirmou Carvalhaes.

Para o dirigente, a grande diferença entre o crescimento no número de equipamentos disponíveis e o de novos profissionais não sugere que haja um excedente de estrutura parada. "O aumento impressionante no número de equipamentos revela apenas uma maior exploração comercial em lugares onde já há atendimento." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Rede Sentinela: novo blog vai reunir informações e notícias sobre vigilância sanitária

Já está no ar o Blog da Rede Sentinela. A ferramenta promove a interação entre os participantes da Rede Sentinela, o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e os colaboradores. No novo espaço virtual, que é mediado pela Anvisa, os participantes poderão trocar informações e notícias sobre o dia a dia da rede.

No espaço serão postadas informações sobre as atividades programadas e realizadas, notícias sobre regulamentação, intervenções e alertas sanitários, divulgação de artigos científicos e outras que dizem respeito ao gerenciamento de risco, vigilância sanitária pós-uso e pós comercialização de produtos e segurança do paciente.

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Rede Sentinela

A Rede Sentinela é uma rede de parceiros que, desde 2002, subsidia o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária com a notificação de eventos adversos e queixas técnicas ligadas ao uso de produtos para a saúde, medicamentos, sangue e hemoderivados.

A rede conta com 192 hospitais que atuam sistematicamente no monitoramento e notificação de eventos adversos. São hospitais que cumprem todos os requisitos de excelência na realização de relatos de problemas para a Anvisa. Esta é uma medida fundamental para que problemas técnicos e erros de procedimentos possam ser identificados e corrigidos no dia a dia dos hospitais.

Fonte Anvisa


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