terça-feira, 26 de agosto de 2014

Educação: o paradoxo do tempo perdido

Em palestra para gestores educacionais, criador do movimento Uncollege conta por que abandonou a escola para viver outras experiências e ensinar pessoas do mundo todo a fazer o mesmo

Por Cinthia Rodrigues, para a Carta na Escola

Um jovem de 22 anos vestido com camiseta e meias vermelhas sob um blazer social foi a principal estrela do Fórum de Lideranças Desafios da Educação, realizado pela Blackboard e pelo Grupo A Educação em (6/8/2014), em São Paulo. A diferença de idade entre o palestrante e a veterana audiência só contrastava menos do que o propósito entre os dois: Dale Stephens estava no Instituto Insper para contar a 200 gestores de instituições privadas de ensino superior como deixou a escola e, mais tarde, a faculdade para viver de incentivar pessoas do mundo inteiro a fazer o mesmo.


Há 10 anos o norte-americano do Arkansas abandonou a 6ª série depois de um recesso de meio de ano para nunca mais voltar à escola básica. A reação dos pais, lembra, foi a esperada, se revoltaram, se frustraram, choraram. Por fim, foram convencidos: “Eu não tomei esta decisão por preguiça, mas para não perder mais tempo. Queria aprender coisas que fossem interessantes, não conteúdos que alguém disse que seriam úteis, e que 99% das pessoas esquecem em seguida”, contou.

Com uma foto de cada experiência, Stephens listou o que fez da vida nos seis anos seguintes. Aprendeu a tocar instrumentos musicais, trabalhar com ferramentas, montou projetos para encontrar soluções para situações do cotidiano e grupos de estudo de temas diversos na biblioteca. “Até trabalhei em uma instituição que, ironicamente, ajudava pessoas a entrar no ensino superior”, afirmou em sua performance, arrancando gargalhadas do público.

Neste último emprego, o adolescente foi questionado pelo chefe sobre por que não fazia faculdade. Em mais slides, com elaborados gráficos estatísticos, Stephens apresentou suas ponderações. Entre elas, estava o fato de a graduação custar cerca de 29 mil dólares nos EUA e que, em 2012, 53% dos norte-americanos formados em cursos superiores não haviam encontrado colocação no mercado. “Ninguém discorda de que é preciso educar a população, mas acho que países como os Estados Unidos precisam pensar quanto da população precisa ter determinada Educação e a que custo.”

A plateia sentiu que marcou um ponto no tópico seguinte. “Cervejas e garotas”, estava escrito no próximo quadro. “Ok, se o conteúdo não é significativo para a maioria dos jovens e o diploma não garante emprego, que pelo menos o percurso seja divertido, certo?”, perguntou, recebendo apoio em forma de acenos e risos. Segundo Stephens, este foi um dos principais pontos que o incentivou a entrar em uma universidade. Acabou se submetendo a um processo seletivo e entrou no Hendrix College, mas achou improdutivo. “No final das contas, eu gostava mais de champanhe e garotos.”

Aos 19 anos, Dale, já reconhecido como um inovador em Educação nos EUA, fundou o Uncollege, organização que incentiva pessoas a estudar por conta e até mesmo dá aulas de como fazê-lo. Em 2012, lançou o livro Hack Your Education com sua experiência que foi motivo de reportagem em revistas e televisões de todo país. O programa tem matriculados e, ironicamente, cursos presenciais pagos. No ano passado, a Forbes o reconheceu como uma das 30 pessoas mais influentes do mundo com idade abaixo dos 30 anos. Seu projeto para 2014 é formar a primeira turma no exterior. Destino escolhido: Ilhabela, São Paulo, Brasil.

Ao público que se dedica a fazer justamente o contrário, ou seja, levar mais jovens ao ensino superior, Dale afirmou que não acha que todos devem abandonar os estudos, mas também não acredita que todos precisam fazer cursos tradicionais. “A Educação precisa passar por mudanças, e não vou conseguir isso sozinho. O sistema precisa mudar, por isso quero compartilhar com vocês algumas premissas às quais chegamos e que, na verdade, são bastante conhecidas, mas pouco praticadas”, disse.

As dicas do jovem empreendedor foram que o aprendizado requer:
  • participação ativa, em que as pessoas não apenas ouçam, mas façam, toquem, sintam, vejam, viajem etc.
  • contexto pessoal – o envolvimento ocorre quando o conteúdo tem sentido e utilidade concreta na vida do estudante.
  • paradas para descanso – pesquisas mostram que uma parada de alguns minutos faz o cérebro absorver o dobro de informação na sequência.
  • mentalidade de crescimento – pessoas com projetos em que os estudos a farão ser um ser humano mais valioso aprendem mais.

Parece que Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg e outros famosos autodidatas que preferiram a própria metodologia à academia abriram portas para jovens que tomam as rédeas da própria educação.

Saiba mais: http://www.uncollege.org/


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