Publicado por CAIO ZINET em 25/07/2016, no http://educacaointegral.org.br/
“Você pode ter muitas riquezas materiais: cofres com joias e
baus de ouro. Porém mais rico do que eu você não poderá ser: tive uma mãe que
leu para mim”. Dessa forma começa a introdução do livro: “Manual de leitura em
voz alta”, de Jim Trelease, onde o autor apresenta suas pesquisas sobre leitura
em voz alta e os resultados surpreendentes, incluindo testemunhos de pessoas
que relatam uma mudança significativa na relação com a leitura. Os livros nos
levam a mundos imaginários e nos permite viver novas realidades, conhecer
outras possibilidades e se relacionar de múltiplas maneiras com os autores.
Somos um grupo de pesquisa que nasceu em 2010 como clube de
leitura na Sede de Chápata do Instituto de Educação El Horro, na cidade de
Anserma Caldas, Colômbia. Inicialmente buscamos compreender o que torna uma
pessoa leitora e criamos um grupo para entender porque se exige que os
estudantes leiam nas escolas e porque muitos alunos não leem por vontade
própria. Dessa forma nos inscrevemos no programa de pesquisa Onda Colciencias,
no departamento de Caldas, com o nome “Leitores por vontade própria para a
vida”.
Para a pesquisa, organizamos um grupo de estudantes do
ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos) para compreender quais porque alguns
estudantes não gostavam de ler. Nas matérias de humanas se pediam aos alunos
que lessem, com o argumento de que a seleção dos textos fosse feita livremente,
mas, ainda assim, ler não era um ato de escolha, mas sim de obrigação.
Com o passar do tempo, compreendemos que o interesse de
várias das crianças não era ler e usavam o argumento da obrigação para
resistir. Indo mais além, percebemos ao longo da pesquisa que faltavam modelos
já que nas suas casas, a maioria dos estudantes não tinha acesso a livros e
nunca se havia lido para eles em voz alta, portanto, a única oportunidade de
conviver com livros acontecia no ambiente escolar.
O professor de Linguagens, José Fernando Arias, começou,
então, a ler em voz alta em todas as suas aulas. Depois disso, nosso proposito
mudou de “animar os estudantes a ler” e se transformou em “leitores para a
vida”.
Com isso, a vida institucional da escola mudou. Todos os
dias de manhã acontece uma revolução: meninas e meninos, jovens, professores e
professoras, iniciam uma maratona em busca das letras. Os alunos saem de suas
salas de aula, os maiores fazem leitura em voz alta para os pequenos, são
feitas trocas de livros e de anotações. Houve mudanças nos grupos, em seus
integrantes e na forma de trabalhar a leitura na escola.
Os demais professores do instituto se uniram de múltiplas
formas, viabilizaram tempos e espaços para a leitura diária. Vários estudantes
do 4º e do 5º ano do ensino fundamental também queriam ler para os menores e a
proposta passou a integrar o Plano Nacional de Leitura e Escrita (PNLE).
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Crianças podem ler em voz alta uma para a outra |
Diariamente, os integrantes do grupo da sede de Chápata
compartilham algumas de suas vivências e reflexões nos diários de pesquisa.
Seus registros vão desde informações básicas, como o livro lido, as estratégias
usadas e as “características comportamentais” em que se descreve um pouco da
situação vivida com os alunos para quem eles leem.
Tais descrições continham as reações das crianças, as
verbalizações do que entendiam e do que compreendiam como avanços de leitura
etc.
Tendo em conta que existem diversas formas de se aproximar e
viver um texto, e reconhecendo que a produção, oral e escrita se enriquece com
múltiplas estratégias, em maio deste ano iniciamos um novo processo de ensino e
convidamos os estudantes a imaginarem e criarem novas histórias a partir de
suas leituras por meio de três estratégias.
A primeira foi denominada texto imaginativo, no qual se
apresenta aos alunos algumas partes do livro como o título e/ou a capa, com a
intenção de promover a construção de uma história a partir desses elementos. A
ideia é que eles façam uma espécie de previsão verbal daquilo que esperam
encontrar na história do livro, qual a característica dos personagens, que
imaginem quais situações e lugares estarão presentes e que tragam para a sua
realidade pessoal o que o título ou a capa diz.
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É possível estimular a imaginação dos estudantes a partir da leitura No exercício de imaginar situações, o papel das perguntas que se devem formular para levar as crianças a formular uma história é central. Os “quens”, os “quês”, os “quandos”, os “comos” , os “ondes”, os “porquês” e os “para quês”. Todas aquelas palavras interrogativas que abrem a possibilidade de descrições literárias servem como um ponto de partida da criação, estimulando a imaginação.
A segunda maneira de abordar os livros e promover a
imaginação é fazer leituras de imagens. Aproveitando a riqueza das ilustrações
do texto, a forma como se apresentam, a representação conceitual que se cria a
partir delas, as sequências (sim, elas existem), os detalhes, as cores, cheiros
e sabores que se podem construir a partir dessa imagem, os conhecimentos
prévios de emoções, as relações com a realidade. Tudo que produz uma imagem em
nosso cérebro se aproveita para que se construa também uma história.
Logo depois disso praticamos a leitura em voz alta. O
exercício complexo nos permite entrar em um mundo de personagens, emprestar as
nossas vozes para que os outros conheçam o o que os autores criam para si e
para os outros.
Ler em voz alta requer lidar com nuances de voz para atingir
o objetivo, exige muitas criatividade na hora de apresentar os textos e deve
ser acompanhado do uso da linguagem corporal, já nossa voz, sozinha, não conta
uma história se não forem usados os nossos rostos, mãos, elementos que estão ao
nosso redor e no das crianças para as quais estamos lendo. No final das contas,
é preciso ler com tudo, com todos e para todos e todas.
Em alguns casos, utilizamos de uma quarta estratégia. Como
um exercício que busca saber o quanto as histórias criadas e lidas coincidiram.
Voltamos aos cenários iniciais criados para conhecer os elementos comuns para
saber quem “acertou”. Sendo necessário deixar claro que não existe acerto e
erro e somente um jogo de dizer “ta vendo, eu tinha razão”, “isso fui eu quem
disse”, “assim mesmo que eu imaginei”, “nada a ver com o que eu achei”, “eu
queria que”.
Durante o tempo da experiência, deixamos marcas nas vidas
dos alunos e dos professores. Uma forma de avaliar o que estamos fazendo,
buscar melhorar o que fizemos e reconhecer as conquistas é medir e sistematizar
o impacto. Para isso foram feitas pesquisas que foram respondidas pelas
crianças e leitores. Para tabular as respostas, nos apoiamos na Matemática e o
docente da área.
Atualmente usamos recursos digitais e estamos explorando
outras maneiras de aproximação dos livros, compartilhando-as com o mundo. É por
isso que a criação de diários virtuais se faz necessária; e para aqueles que
desfrutam escutar de outras vozes a criação de grandes autores, para os que têm
acesso limitado aos livros impressos, para os que têm dificuldade de ler,
estamos buscando audiolivros que podem ser baixados em celulares.
Durante o tempo do projeto se construíram histórias e o
mundo todo pode ver nossos avanços a partir das publicações em blogs
institucionais e nas páginas do Diário La Patria, aspectos dessas histórias
podem ser lidos no blog: http://lectoresparalavidachapata.blogspot.com
Por Sandra Milena Carvajal Alarcón, do Palabra Maestra
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