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terça-feira, 15 de julho de 2014

Educação: jovens do campo vão ter formação agroecológica e de inclusão digital


Maria Helena Serafim (Foto Divulgação)
Maria Helena Serafim pertence à comunidade Kalunga, remanescente de quilombo no norte de Goiás. Ela tem 26 anos, já deu aulas em sua comunidade, em Monte Alegre de Goiás (GO), mas teve que parar para fazer faculdade de Educação no campo, na Universidade de Brasília (UnB). Ela quer voltar a ser professora, e seu sonho é que os filhos continuem na comunidade. Mas em toda a região, de 272 mil hectares, não há sequer uma escola de ensino médio, o que acaba favorecendo a evasão dos jovens para as cidades.

Segundo Maria Helena, apenas algumas regiões da comunidade de 6 mil pessoas têm saneamento básico e energia elétrica. Nas demais, é necessário buscar água no estilo antigo, “em cima da cabeça”. Além da busca por escolas, os jovens saem da comunidade para trabalhar, e muitos deles não retornam. “Voltar para quê, se eles tiveram acesso a tudo que não tinham na comunidade? Por mais que a gente ache que nossa cultura é boa, ela não segura nossos jovens lá. Eles querem trabalhar, querem andar bem vestidos, na moda. Na nossa estrutura de comunidade não temos isso, não temos outro tipo de trabalho, além da cultura de subsistência, para que esses jovens tenham renda”, explica.

Na tentativa de mudar esse cenário, e fazer com que os 8 milhões de jovens que moram na zona rural tenham a opção de continuar no campo, o governo assinou nesta quinta-feira (3) um acordo interministerial que inclui novas iniciativas no Programa de Fortalecimento da Autonomia Econômica e Social da Juventude Rural. Serão R$ 35 milhões para cursos de agroecologia, residência de universitários em assentamentos rurais, cinco pontos de cultura e 50 pontos de inclusão digital para a juventude rural.

Seis cursos de Formação Agroecológica e Cidadã vão ser oferecidos em parceria com instituições de ensino, com foco no Norte e Nordeste, como a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, e a Universidade Federal Rural de Pernambuco. De acordo com a secretária nacional da Juventude, Severine Macedo, as ações têm previsão de início imediato. Outro ponto do acordo é a criação de 25 turmas em parceria com universidades que contribuam para a formação dos jovens, além de um programa Juventude Itinerante, que vai levar aos jovens informações sobre as políticas públicas a seu alcance.

O valor aplicado para um público tão amplo, no entanto, é alvo de críticas. De acordo com Paulo Mansan, da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude Rural, um programa de impacto requer mais recursos para que a juventude continue no campo. Ele avalia que outros programas podem se somar às iniciativas, como a qualificação dos jovens. “Além de cursos, são necessários projetos que incentivem a renda dos jovens no campo, inclusive projetos produtivos rurais, que a gente acredita que sejam os próximos passos desses programas”, avaliou.

Durante a assinatura do acordo, no Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, reconheceu que a pressão dos movimentos sociais é importante para a ampliação das políticas. “Eu aceito, e tenho que entender que de fato é muito pouco. Mas tenho que lembrar das políticas que realizamos e do quanto andamos do ponto de vista de recompor uma sociedade absolutamente injusta, com padrão de exclusão brutal e estrutural”, explicou.

“O grande limite da crítica que os movimentos fazem, e têm razão, é que este tema ainda não entrou para a agenda de ministérios do governo, de maneira permanente”, acredita a secretária Severine. Para ela, é preciso fazer um esforço para que a juventude rural seja tratada diferentemente das políticas macro da agricultura familiar, “porque o jovem precisa ter estímulos diferenciados, ele valoriza mais o uso do computador, o telefone no meio rural e o lazer”. O acordo assinado hoje, na sua opinião, vai contribuir para que os órgãos governamentais deem uma resposta daqui para frente.

Enquanto cultiva esperanças de que os programas sejam um incentivo para que os jovens permaneçam nas comunidades rurais e, por consequência, na comunidade Kalunga, Maria Helena Serafim quer concluir logo seu curso de licenciatura em educação no campo na UnB. “Depois, retornar para a comunidade, minha vida é lá, e é por isso que eu luto para que as coisas cheguem lá. A gente não precisa vir embora, para que eu não crie meus filhos cá fora também. [Farei tudo] para que eles não percam aquela essência, aquela raiz. Eles têm que aprender todo o nosso processo cultural, tradicional”, afirma.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Inclusão digital: Brasil ocupa 72ª posição em ranking mundial

Entre 156 países, o Brasil ocupa a 72ª posição no Índice Integrado de Telefonia, Internet e Celular (Itic) de Inclusão Digital. Divulgado pela primeira vez, o indicador mostra que 51,25% da população brasileira têm acesso ao computador, à internet, ao celular e ao telefone fixo, segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Fundação Telefônica/Vivo, com base em dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Gallup.

De acordo com a pesquisa, a média mundial de acesso à conectividade é 49,1%. Os países com maiores indicadores são Suécia (95,8%) e Islândia e Cingapura, empatadas com 95,5%. Nas últimas colocações da lista, estão a Etiópia (8,25%), República Centro-Africana (5,5%) e Burundi (5,75%), todos no Continente Africano.

Cidades com melhores condições socioeconômicas facilitamo acesso ao mercado digital (Foto José Paulo Lacerda/Agência Pixel)

 Na América Latina, Venezuela (62%) tem o maior índice de acesso às tecnologias da informação, seguida pelo Chile e Uruguai, ambos com 55%. Na Argentina e na Colômbia, os percentuais são 54% e 51% respectivamente, acima do indicador brasileiro.

Na avaliação do economista da FGV e responsável pela pesquisa, Marcelo Neri, o Brasil está no meio do caminho em termos de inclusão digital. “O Brasil é um copo meio cheio ou meio vazio, depende da maneira como se vê”, disse, durante a divulgação dos dados. Para ele, nos próximos anos, o acesso ao telefone celular será decisivo.

A pesquisa também avaliou a inclusão digital entre os municípios brasileiros. Das mais de 5 mil cidades listadas no Censo 2010, a conectividade é maior em São Caetano do Sul (SP), Santos (SP), Florianópolis (SC), Vitória (ES) e Niterói (RJ) - todas com indicador acima de 70%.

Segundo Marcelo Neri, essas cinco cidades apresentam melhores condições socioeconômicas, o que facilita o acesso ao mercado digital. "Uma condição necessária para usar internet é um grau de Educação que camadas pobres ainda não dispõem. É preciso acelerar (a inserção) por meio de plataformas como o celular, que as pessoas já usam".

São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília ocupam a 19ª, 20ª e a 21ª posições no ranking nacional, respectivamente.

Neri destacou a conectividade em comunidades pobres do Rio de Janeiro, com indicadores próximos à média nacional. São elas: Complexo do Alemão (50,8%), Jacarezinho (54,5%), Maré (55,9%) e Rocinha (57,5%). O pesquisador disse que os dados foram coletados pelo IBGE, assim não é possível comprovar se os serviços são ou não pagos nessas regiões.



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