Em quase cinco anos de Terra Magazine, várias vezes manifestei-me
favorável aos programas governamentais de inserção social, independente de quem
os rotulava como assistencialistas ou não.
Para mim, tanto fazia, faz e fará desde que tragam algum alívio na
renda das populações mais pobres e formem um mercado interno vigoroso.
Hoje em dia, não vejo telas e folhas cotidianas, as mais adversativas
em sua oposição, negarem tais fatos como reais e virtuosos.
Lembro-me, também, que um ano antes do final do segundo mandato de
Lula, escrevi temer que o modelo de crescimento baseado no aumento do consumo
das famílias estivesse nos estertores.
Seria necessário ampliar os investimentos públicos e privados,
sobretudo em infraestrutura, e realizar as reformas política e tributária,
sempre adiadas para atender à Federação de Corporações Brasil.
Penso que, a partir de 2010, Dilma Rousseff como presidente, a inação
quanto a esses itens fez o País perder alguns pontos no crescimento econômico e
pontas no desenvolvimento social.
Ainda assim, alegra-me ver que, para fora do Fla-Flu partidário que
excita nossos comentaristas, várias análises sérias têm concordado com o que
aqui escrevi.
A revista “The Economist” exagerou. Não era para tanto, em 2009, como
não o é para hoje e futuro.
Quanto ao consumo dos brasileiros que entrou para o foco da elite
econômica como pecado mortal, considerada a presença de pobres com celulares em
aeroportos parecidos com rodoviárias, intriga-me um ponto. O do perfil do
consumo.
Parece claro que por algumas décadas tivemos a demanda interna
represada.
Antes, como efeito da inflação; depois, efeito dos pífios
crescimentos de emprego e renda.
Se o primeiro fator foi amenizado com o Plano Real, os programas de
inserção social, a recuperação no salário mínimo e uma situação perto do pleno
emprego amenizaram o segundo.
O que estava represado vazou em borbotões. Para onde? Para o mais
fácil, que estivesse mais perto das mãos, o premente: alimentos, vestuário,
higiene, bens de consumo doméstico e aqueles fetichizados pela lógica
capitalista.
Então, parou por aí? Mais ou menos. Ainda existem enormes contingentes
populacionais sem renda para atender essa primeira etapa do consumo.
Cabe, no entanto, e é por isso ser necessário continuar incorporando
emprego e renda à economia, dar vigor à segunda etapa do consumo, que expande
os bens de mais difícil aquisição, porém mais valiosos.
A procura por instituições privadas de ensino e planos de saúde mais
compensatórios, na ausência de aparelhos públicos qualificados, já mostrou
isso.
O mesmo se deve matutar diante do fato de agosto ter registrado, em
São Paulo, um aumento de 86% nas vendas de imóveis, 46% no acumulado do ano, em
relação a 2012.
Não estaria na lógica das economias capitalistas, a partir de emprego
e renda, a população fazer crescer o consumo na proporção direta de seu
porvir?