segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Educação: ‘falta coragem política para melhorar qualidade da Educação’, diz professor de Harvard

Fryer: "é muito difícil aprender
matemática ou química, se você não
acredita que vá utilizar isso no
trabalho" (Foto José Paulo Lacerda)
Roland Fryer é professor de Economia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Lá, coordena o Laboratório de Inovação em Educação, onde realiza pesquisas sobre impactos da qualidade da Educação.

Antes disso, coordenou a área de equidade do Departamento de Educação da cidade de Nova Iorque entre 2007 e 2008. Nesse período, ele desenvolveu e implementou uma série de ideias inovadoras voltadas à motivação de estudantes e ao pagamento de professores pela melhoria de seu desempenho.

Fryer defende que boas escolas podem corrigir diferenças entre estudantes e que os países sabem que estratégias adotar para melhorar a qualidade da educação que ofertam. O desafio, segundo ele, está em reunir coragem política para implementar as ações. 

Depois proferir a palestra magna no seminário que antecedeu a apresentação do projetoEducação para o Mundo do Trabalho, realizado pelo Sistema Indústria, em 30 de outubro, em Brasília, ele conversou com o Portal da Indústria. Acompanhe.

Portal – Assim como os Estados Unidos, o Brasil é um país de grandes dimensões e também grande diversidade. Quais são os principais desafios para promover a Educação nessa realidade?
Fryer: Nós sabemos o que e como devemos fazer. Não importa a diversidade que exista no país. Há diversidade de recursos, de escolas, da situação entre os estudantes. As crianças com que lido são as de escolas públicas e carentes, as crianças vêm de grupos minoritários e os resultados acadêmicos são muito parecidos os do Brasil. O que eu descrevo na minha pesquisa é que melhores professores e mais tempo ao ensino são o senso comum. Não se trata de uma mágica. São estratégias que podem ser adotadas em qualquer lugar do mundo nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países. O problema é que isso é politicamente complicado. Os Estados Unidos ficaram dando voltas e não enfrentaram o problema e isso é muito frustrante. O principal desafio é ter a coragem política para fazer.

Portal – Na sua apresentação, o senhor citou algumas medidas como pagar para que estudantes leiam livros, por exemplo. Aqui, o programa Bolsa Família coloca entre suas condicionalidades a matrícula na escola. Na sua opinião, qual o mais importante passo depois deste para se conseguir oferecer Educação de qualidade?
Fryer: Eu acredito que o Brasil e outros países da América Latina fizeram bem ao adotar esse tipo de política. Isso aumenta o acesso à Educação e isso é importante. A chave agora não é acesso, mas qualidade. Qualidade é difícil. É mais fácil garantir acesso à escola do que, por exemplo, ter professores fantásticos numa sala de aula.

Portal – Como a indústria pode ajudar na construção de uma educação de mais qualidade no Brasil?
Fryer: Acredito que – com uma economia vibrante, que ajude os estudantes entenderem que existe um mundo diferente longe da academia – é muito difícil aprender matemática ou química, se você não acredita que vá utilizar isso no trabalho. É tolo pensar que as pessoas vão estudar apenas pelo fato de isso ser o certo. Elas vão estudar para comprar coisas, comprar sua casa. A indústria também pode estar mais envolvida nas políticas para aumentar a qualidade da Educação. Os empresários podem demandar melhores escolas, porque eles precisam de força de trabalho. Para o Brasil crescer e prosperar, vai precisar de capital humano de qualidade. O melhor investimento que um país pode fazer em relação a isso é em seu próprio povo e a indústria pode liderar esse processo.

Fonte Portal da Indústria


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