Por Cynara Menezes*
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Kubitschek (Foto Ana Rayssa/Correio Braziliense) |
Depois de passar a terça-feira inteirinha dando entrevistas (até
perdeu a conta de quantas deu), Antonio Kubitschek decidiu desligar o telefone.
Era aniversário da mulher e ele, que nem Facebook tem, decidiu desconectar para
se dedicar à família. O professor de filosofia do Centro de Ensino Médio 3, em
Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, vive dias de celebridade desde que uma
prova sua causou furor nas redes sociais: nela, a funkeira Valesca Popozuda
aparece como “pensadora contemporânea”.
Choveram, é claro, ataques ao professor e ao colégio da rede distrital
onde ensina. Um blogueiro da direita raivosa chegou a decretar o fim da escola
pública: “morreu, foi para o ralo. Virou lixo”, espumou. Mas aí veio a
explicação de Kubitschek. O professor fizera a questão justamente para provocar
o quiproquó que causou. Sua intenção era mostrar de que tipo de carniça se
alimentam os urubus da mídia. E eles caíram feito patinhos.
A própria Valesca, bem mais inteligente do que a blogueirada reaça,
percebeu de cara a intenção de Kubitschek. “E se o professor colocou a questão
dentro do contexto da matéria? E se o professor quis ser irônico com o sucesso
das músicas de hoje em dia?”, publicou a cantora em seu Face, atribuindo o
escândalo a preconceito com o gênero musical. E ainda tirou onda: “Diva, Diva
sambista, Lacradora, essas coisas, eu já estou pronta, mas PENSADORA
CONTEMPORÂNEA ainda não (mas prometo que vou trabalhar isso)”, escreveu. “Vou
ali ler um Machado de Assis e ir treinando pra quem sabe um dia conseguir ser
uma pensadora de elite!” Beijinho no ombro.
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Reprodução do Face de Valesca |
Professor da rede pública no Distrito Federal há 19 anos, Kubitschek,
43, é, ao contrário do retrato pintado pelos apressados, um professor bastante
conceituado na cidade, admirado por colegas e ex-alunos.
Sua intenção era
cumprir uma das principais tarefas do educador: estimular o debate entre os
jovens. E conseguiu.
O blog fez um pequeno pingue-pongue com o professor, que
não tem parentesco algum com o presidente Juscelino. O Kubitschek, na verdade,
é segundo nome. Uma homenagem do pai dele ao criador de Brasília.