Por Thomaz Wood Jr./Carta Capital
Uma
edição recente do New York Times Magazine publicou 32 inovações que vão “mudar
o nosso futuro”. A lista contém itens curiosos. Cientistas desenvolvem roupas
elétricas, capazes de gerar energia com base nas diferenças de temperatura
entre partes do corpo. Muito útil para carregar fones celulares. Resta ver
quantos dias precisaremos usar a mesma camiseta para completar a carga.
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Empresas
e mídia de negócios promovem o culto à inovação. Para pesquisador
norte-americano, deveríamos,
contudo, prestar mais atenção à imitação (Foto Yto/Flickr)
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O
Chaotic Moon Labs, centro de pesquisa e desenvolvimento, projeta um novo
carrinho de supermercado, que vem com um tablet integrado e usa o sistema
Kinect, da Microsoft. O fiel transportador absorve o perfil do cliente e o
segue pelas alamedas do consumo, indicando os itens a ser comprados, advertindo
contra violações de dieta e efetivando automaticamente as compras. Resta saber
se ele poderá moderar os impulsos de consumidores compulsivos.
A
empresa de design Frog pretende desenvolver computadores que poderão projetar
múltiplas telas em diferentes superfícies, permitindo o trabalho simultâneo em
vários assuntos. Imagine, caro leitor, o escritório do futuro, com 100 ou 200
funcionários a projetar suas telas de trabalho no teto, no chão, nas costas do
vizinho. Vai ser um espetáculo.
Kazutaka
Kurihara e colegas criaram o SpeechJammer, a arma do silêncio. Quando acionada
contra um falador, ela grava a voz da pessoa e a reproduz com um atraso de 100
milissegundos. A ação dispara um processo cerebral que emudece o interlocutor.
Os inventores esperam que sua criação ajude a promover a paz mundial.
Criatividade
e inovação são ingredientes básicos do capitalismo. Criar novos produtos,
serviços e processos, e transformar as criações em negócios ajudam a manter a
grande máquina jovem e saudável. Individualmente, para as empresas, é uma
questão de sobrevivência. Inovar permite sair à frente e ganhar com a vantagem
econômica de serem únicas, por algum tempo.
Significativamente,
nos últimos anos a inovação ganhou status de fetiche e se transformou em objeto
de culto. Livros disseminam casos de sucesso, cursos ensinam executivos a
inovar, eventos celebram o tema e prêmios reconhecem os maiores talentos. Todos
querem ser o próximo Steve Jobs. Até mesmo organizações públicas e sociais
entraram na onda.
Oded
Shenkar, professor da Ohio State University de consistentes credenciais
acadêmicas, seguiu caminho contrário. Seu livro – Copycats: Melhor Que o
Original (Editora Saraiva) – celebra a cópia, não o original. O pesquisador
mostra como os seguidores conseguem gerar valor copiando os originais.
Coerentemente, seu argumento também é copiado. Theodore Levitt, um decano da
Administração, escreveu há tempos que a imitação está mais presente nas
empresas que a inovação e é o caminho mais direto para o crescimento e os
lucros.
Shenkar
observa que a história empresarial está cheia de exemplos de imitadores que
tiveram mais sucesso que os criadores originais. A RC Cola introduziu
refrigerantes dietéticos, mas foi logo copiada pelas gigantes Coca-Cola e
Pepsi. A Sony introduziu a fotografia digital, mas perdeu espaço para outros
fabricantes. O Diners Club emitiu o primeiro cartão de crédito, mas viu seu
mercado ser dominado pelos concorrentes. A imitação é a regra, e não a exceção.
O
pesquisador argumenta que a imitação é uma capacidade estratégica que pode ser
desenvolvida e aplicada com sucesso. Imitar significa copiar, replicar ou
repetir uma inovação, seja um produto, seja um serviço, um processo ou um
modelo de negócios. Não se trata de pirataria, embora a linha divisória seja
tênue.
A
imitação permite economizar custos em pesquisa, desenvolvimento e marketing.
Reduz o risco do empreendimento, pois há um precedente de que o novo produto ou
serviço tem aceitação entre os consumidores. Além disso, imitadores estão menos
atados a tecnologias antigas e são menos complacentes e menos inebriados com o
sucesso.
Empresas,
eventualmente, ignoram os benefícios da imitação. Entretanto, para Shenkar, a
velocidade da imitação está crescendo tanto ou mais que a velocidade da
inovação. Para o autor, a imitação é consistente com a inovação e pode
facilitá-la.
Copiar
não é bom para o ego dos executivos, mas pode ser ótimo para o bolso dos
acionistas. O iPod não foi o primeiro reprodutor de músicas. O conceito de
tablet foi criado muitos anos antes do lançamento do iPad. Isso não impediu a
Apple de dominar o mercado e capturar enorme valor.
Não se pode negar a
importância da inovação da empresa, mas seus lucros vêm de uma estratégica mais
ampla, que orquestra inovação com imitação, combinações inteligentes de
tecnologias, uma estratégia inteligente de marca e fabricação na China.