Segundo o documento chamado Working for the Few (Trabalhando Para
Poucos, em tradução livre), as 85 pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio
de US$ 1,7 trilhão, o que equivale ao patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas, as
mais pobres do mundo.
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Favela do complexo de Lins e estádio olímpico João Havelange ao fundo,
no Rio de Janeiro (Reuters) |
O relatório ainda afirma que a riqueza do 1% das pessoas mais ricas do
mundo equivale a um total de US$ 110 trilhões, 65 vezes a riqueza total da
metade mais pobre da população mundial.
A Oxfam observou em seu relatório que, nos últimos 25 anos, a riqueza
ficou cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.
"Este fenômeno global levou a uma situação na qual 1% das
famílias do mundo são donas de quase metade (46%) da riqueza do mundo",
afirmou o documento.
"No último ano, 210 pessoas se tornaram bilionárias, juntando-se
a um seleto grupo de 1.426 indivíduos com um valor líquido combinado de US$ 5,4
trilhões", destaca o relatório.
"É chocante que no século 21 metade da população do mundo – 3,5
bilhões de pessoas – não tenham mais do que a minúscula elite cujos números
podem caber confortavelmente em um ônibus de dois andares", afirmou Winnie
Byanyima, diretora-executiva da Oxfam.
Para Byanyima, "em países desenvolvidos e em desenvolvimento
estão cada vez mais vivendo em um mundo em que as taxas de juros mais baixas, a
melhor saúde e Educação e a oportunidade de influenciar estão sendo dadas não
apenas para os ricos mas para os filhos deles também".
"Sem um esforço concentrado para enfrentar a desigualdade, a
cascata de privilégios e de desvantagens vai continuar pelas gerações. Em breve
vamos viver em um mundo onde a igualdade de oportunidades é apenas um
sonho", acrescentou.
Publicado dias antes do Fórum Econômico Mundial em Davos (22 a 25/1/2014), o relatório
detalha o impacto da crescente desigualdade em países desenvolvidos e outros em
desenvolvimento.
América Latina e Brasil
O relatório da Oxfam apontou que alguns países, especialmente na
América Latina, estão conseguindo ir contra esta tendência, diminuindo a
desigualdade na última década.
"Entre os países do G20, as economias emergentes geralmente eram
aquelas com maiores níveis de desigualdade (incluindo África do Sul, Brasil,
México, Rússia, Argentina, China e Turquia) enquanto que os países
desenvolvidos tendiam a ter níveis menores de desigualdade (França, Alemanha,
Canadá, Itália e Austrália)", afirmou o documento.
"Mas até isto está mudando, e agora todos os países de alta renda
do G20 (exceto a Coreia do Sul) estão vivendo o crescimento da desigualdade,
enquanto o Brasil, México e Argentina estão vendo um declínio nos níveis de
desigualdade."
A Oxfam destaca o caso brasileiro, apontando que o país teve
"sucesso significativo na redução da desigualdade desde o início do novo
século".
"Em parte devido ao crescente gasto público social, uma ênfase no
gasto com saúde pública e Educação, um programa de transferência de renda de
larga escala que impõe condições para o recebimento (Bolsa Família) e um
aumento no salário mínimo que subiu mais de 50% em termos reais desde
2003", afirmou o relatório.
A Oxfam alerta que a "democracia ainda é frágil e a desigualdade
ainda é muito alta na região, mas a tendência mostra que problemas que eram
insolúveis, as enormes disparidades de renda, podem na verdade ser enfrentados
com intervenções políticas".
Leis e paraísos fiscais
A Oxfam também fez uma pesquisa em seis países (Brasil, Espanha,
Índia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos) e mostrou que a maioria
dos entrevistados acredita que as leis são distorcidas para favorecer os ricos.
Entre os países pesquisados, a Oxfam destaca a Espanha, onde oito em
cada dez pessoas concorda com essa afirmação sobre as leis.
A ONG também destaca outro grande problema relacionado ao dinheiro que
não paga impostos, ficando em paraísos fiscais.
"Globalmente, os indivíduos e companhias mais ricos escondem
trilhões de dólares dos impostos em uma rede de paraísos fiscais no mundo todo
- estima-se que US$ 21 trilhões estão escondidos sem registros", informou
a ONG em seu relatório.
Segundo a ONG, que vai enviar representantes a Davos, os participantes
do Fórum Econômico Mundial têm o poder de reverter o aumento da desigualdade.
A Oxfam pede que os participantes do fórum se comprometam a não
sonegar impostos em seus países ou em países onde têm investimento, não usar a
riqueza econômica para conseguir favores políticos que prejudiquem a
democracia, apoiar os impostos progressivos sobre patrimônio e renda, enfrentar
o sigilo financeiro e sonegação de impostos entre outras recomendações.
Além disso, a ONG também recomenda o estabelecimento de uma meta
global para acabar com a desigualdade econômica extrema em todos os países, uma
regulamentação maior dos mercados para promover crescimento sustentável e
igualitário e a diminuição dos poderes dos ricos de influenciar os processos
políticos.
Publicado originalmente na BBC
Brasil, em 20/1/2014