Por Fernanda
Kalena, para o Porvir
Fim de Copa do Mundo, Alemanha campeã, e o Brasil fora da grande festa
da final após ser eliminado por um placar embaraçoso de 7×1. Na escola, tanto
essa quanto qualquer outra derrota pode ser usada como gancho para trabalhar
nas aulas de educação física habilidades socioemocionais que moldam o caráter e
preparam os alunos para a vida, como aprender a lidar com perdas, trabalhar em
equipe e aceitar e obedecer regras.
Para Fernando Lobo, gestor pedagógico da Rede de Ensino Desportivo
(Rede), instituição de ensino voltada
para a capacitação de profissionais ligados a esportes, os grandes eventos
esportivos são um bom pretexto para colocar em prática atividades que envolvem
o desenvolvimento de questões não cognitivas. “Nos esportes em geral, sempre
vai ter um perdedor e um vencedor. Nas aulas de educação física, algumas
modalidades esportivas como o futebol podem ser usadas como ferramentas de
desenvolvimento não só motor, mas também socioafetivo”.
![]() |
(Foto Kungverylucky/Fotolia.com) |
Segundo ele, preparar os
alunos para lidar com vitórias e derrotas é papel do educador físico, que deve
propor atividades com esse fim. “É importante deixar claro que perder é natural
e que em um próximo jogo quem perdeu pode ganhar. Em uma atividade de jogo, o
professor pode mesclar os alunos de forma que um time fique mais forte que o
outro para que todos passem pela experiência de ganhar e perder”, explica Lobo,
que ainda acrescenta que cabe ao
professor manipular e induzir situações para que todos os alunos vivenciem os
dois lados da moeda.
“Crianças, em geral, mas principalmente as na primeira infância, têm
dificuldade em perder, muitas vezes chegam a burlar regras para poderem vencer,
e isso deve ser trabalhado”, explica o gestor. Ele também ressalta que outra questão
importante a ser trabalhada é o seguimento de regras. “Regras são extremamente
importantes como limitadores de atitudes”, completa.
O coordenador do curso de educação física do Colégio Presbiteriano
Mackenzie, de São Paulo, Ronê Paiano, acrescenta que as regras devem ser
trabalhadas em uma perspectiva reflexiva, que esclareça por que elas existem e
abrindo espaço para que os alunos as questionem. “As regras do esporte podem
ser transferidas para a vida em geral. Não existe convívio social sem regras”,
afirma. “É interessante questionar os alunos se é possível jogar sem regras,
pode até coloca-los para jogar alguma coisa sem regras, para faze-los entender
a necessidade delas”, completa o coordenador, que ressalta que atividades
regradas desenvolvem atitudes honestas e o falar a verdade.
Outro habilidade de grande importância que os esportes coletivos dão
abertura para ser trabalhada é a colaboração, a importância do trabalho em
equipe.
“Nos esportes coletivos, além da competição com o adversário, é
necessário se relacionar com os colegas de time. Para que o grupo tenha
sucesso, é fundamental aprender a trabalhar em conjunto e para isso é preciso
respeitar as escolhas e as atitudes dos outros como, por exemplo, reconhecer
quando é melhor passar a bola para um colega melhor posicionado ou mesmo
compreender se alguém errar uma jogada”, explica Paiano.
Segundo ele, o professor pode instigar os alunos a perceberem que
atitudes individualistas não são benéficas em atividades coletivas permitindo
que a turma debata jogadas e estratégias em conjunto. “Os alunos têm que ser
levados a essa reflexão, o professor pode incitar a conversa, mas entre
adolescentes, por exemplo, é mais proveitoso o debate entre pares”, argumenta.
Os valores trabalhados e desenvolvidos através do esporte nas aulas de
educação física, como colaboração e lealdade, são aprendizados que serão
levados por toda a vida, segundo Lobo. “Todo mundo convive com vitórias e derrotas, no esporte e na vida.
Trabalhar em equipe e colaborar com o outro, também. As crianças têm que interiorizar
essas sensações, pois sempre estarão presentes em suas vidas”, conclui.