Jogos eletrônicos, filmes em 3D e realidade
aumentada, tecnologias que ainda são desconhecidas por parte dos jovens
brasileiros. Ao perceber que seus alunos, de Petrópolis, no Rio de Janeiro, não
entendiam o que é um filme em 3D por nunca terem assistido a uma produção com
essa tecnologia, o Professor de matemática Guilherme Erwin Hartung decidiu
mostrar a eles O Fantástico Mundo 3D.
O projeto deu tão certo que Hartung recebeu, no
ano passado, o Prêmio Professores do Brasil, concedido pelo Ministério da
Educação (MEC). Durante as atividades oferecidas fora do horário das aulas, sem
valer nota, 15 estudantes montaram um site com imagens em 3D produzidas por
eles mesmos.
 |
Hartung usa lousa digital e o software canadense iME (math education) criado
pelo doutor Georges Touma, da Universidade de Ottawa (Foto Divulgação)
|
Antes tiveram oficinas de biologia, para saber
como funciona o olho humano, de física, sobre polarização da luz, e, claro, de
matemática, para entender e calcular a geometria envolvida na produção das
imagens com a sensação de profundidade. Também foram feitas visitas a
institutos de pesquisa e a laboratório de computação, além de participarem de videoconferência
com especialista em 3D de Hollywood, nos Estados Unidos. Tudo graças ao empenho
do Professor, que também é orientador tecnológico no Colégio Estadual
Embaixador José Bonifácio, de ensino médio.
“Os alunos gostaram, alguns disseram que a questão
da física mudou, tem muito aluno que diz que odeia física, mas, quando vê a
física aplicada, uma coisa interessante, palpável, passa a ver a física com
outros olhos. A Professora de biologia também comentou que os alunos realmente
aprenderam o sistema de visão. Em matemática, os 15 que frequentaram o projeto
todo realmente aprenderam as razões trigonométricas”, contou Hartung.
Para ele, o incentivo de um Professor é suficiente
para mudar o destino de um aluno. “Com certeza, [entre] os alunos que
participaram do [projeto] 3D, muitos falam em fazer faculdade na área de TI
[tecnologia da informação], já estão correndo atrás, escolheram faculdade, Enem
[Exame Nacional do Ensino Médio], vestibular. Fiquei feliz. Não sei se o
projeto contribuiu para isso, mas com certeza abriu um pouco a cabeça deles
nesse sentido.”
Outro projeto desenvolvido por ele no colégio de
Petrópolis envolve uma atração irresistível para praticamente todo adolescente:
os jogos eletrônicos. O Professor observou o quanto é diferente o comportamento
do aluno enquanto joga e quando está na escola.
“Quando joga, ele 'morre' na mesma fase cem vezes
e continua tentando. Quando ensino matemática e o aluno erra o exercício, fica
frustrado e não quer mais fazer. Outra coisa é a concentração, quando o
adolescente joga está muito focado, o que não acontece na aula. Tem também o
desafio, a próxima fase precisa ser mais difícil do que a anterior. Na aula, se
você dá primeiro um exemplo fácil para entender a mecânica e depois dá exemplos
mais difíceis, dizem 'está complicando a nossa vida'."
A ideia do Professor, que tem formação técnica em
TI, foi estimular os alunos a produzirem seus próprios jogos. “A única regra
que tinha era: esse jogo que você vai criar tem que ensinar alguma coisa para
alguém”. O Professor usou softwares livres e fáceis de trabalhar, em que é
possível montar a estrutura de um jogo. Nesse caso, também foram dadas oficinas
sobre matemática aplicada, indústria de games, programação, desenho e linguagem
visual de um jogo.
Com isso, no primeiro ano do projeto foram
produzido cerca de 30 joguinhos. “Percebi a melhora de alguns alunos em
matemática depois do projeto. O interessante é que muitos dos jogos foram
aproveitados pelos Professores em sala de aula e alguns foram demandados. Isso
é bem inovador, o aluno participar da prática do Professor, e também a visão
inovadora de usar jogos em sala de aula”.
A motivação para Hartung vem do próprio exercício
da profissão. “Com o cargo de orientador tecnológico, eu tinha 12 horas e um
laboratório de informática, não podia deixar os alunos jogando e entrando no
Facebook, então comecei a inventar coisas. Eu tinha que ajudar de alguma forma
a melhorar esses índices horrorosos que o Brasil amarga nessas avaliações
externas.”
Segundo ele, o seu maior incentivo é conseguir
despertar no aluno o prazer de aprender. “Eu costumo dizer que eu jogo iscas –
tecnologia 3D, jogos, realidade aumentada – para trazer o aluno, para ele pelo
menos tentar se envolver com aquilo, com os conteúdos que estão ali por trás. A
partir do momento em que ele começa a experimentar, começa a ter essa sensação
boa de 'agora eu sei um pouco mais do que eu sabia antes', aí você vê uma
transformação interessante.”
O Professor acredita que a Educação no Brasil tem
melhorado, mas de uma forma muito lenta. “O ensino médio passou a ser
obrigatório, a falta de Professor que havia cinco anos atrás já não acontece
tanto, as escolas estão com uma estrutura melhor. Mas a motivação dos alunos eu
acho que não é grande coisa, pelo contrário, eu acho até que na minha época a
gente não era tão desmotivado”.
O trabalho do Professor Guilherme Erwin Hartung
com os alunos do Colégio Estadual Embaixador José Bonifácio podem ser
conferidos nos sites http://www.guilhermeeh.blogspot.com.br/,
http://petropolis3d.webnode.com.br/ e
http://www.fractalmultimidia.blogspot.com.br/, que oferece os jogos
desenvolvidos para download.