Esquistossomose:
Brasil conclui primeira fase de testes clínicos em imunizante
A
criação de uma vacina inédita contra a esquistossomose foi aprovada em sua
primeira fase. Pioneiro com potencial para helmintos – grandes parasitas que
infectam mais da metade da população humana – o imunizante acaba de ser
aprovado nos testes clínicos, o que garante a capacidade de induzir imunidade à
doença que afeta cerca de 200 milhões de pessoas.
Desenvolvida
e patenteada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a vacina coloca o nome
do Brasil na fronteira da ciência mundial, como a primeira vacina para
helmintos. Com potencial multivalente, é eficaz também para a fasciolose –
verminose que afeta o gado – e outras doenças causadas pelos helmintos. A
produção do imunizante se deu a partir da reconstrução da proteína Sm14. Esse
antígeno é obtido a partir do Schistosoma mansoni – verme causador da doença na
América Latina e na África – e é capaz de estimular a produção dos anticorpos.
Liderada
pela pesquisadora Miriam Tendler, do IOC/Fiocruz, a vacina rendeu mais de 30
anos para ser produzida. A primeira fase foi realizada no Instituto de Pesquisa
Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) e contou com testes clínicos em 20
voluntários saudáveis. Assim, foi provada a eficácia e, principalmente, a
segurança dos imunizantes para uso em humanos. “A segurança de uma vacina é sua
qualidade mais importante”, diz a pesquisadora.
Assim,
a segunda fase – que também tem como objetivo a segurança – deve começar em
breve, a partir de testes em larga escala com 226 indivíduos em áreas endêmicas
do Brasil e da África. As quatro fases da produção devem ser concluídas em
cerca de cinco anos, tempo estimado para garantir o acesso do imunizante às
populações.
A
pesquisa teve início na Fundação em 1975. Nos primeiros anos, cientistas
identificaram o princípio ativo para o efeito farmacológico contra o parasita.
Em seguida, encontraram a proteína Sm14, também presente em outros parasitas. A
partir de 1990, a Fiocruz depositou as cinco famílias de patentes, o que
garantiu a propriedade intelectual da produção. E, nos anos 2000, por meio da
primeira parceria público-privada desenvolvida pela Fundação, foi criado um
modelo de industrialização e comercialização do imunizante.
A
produção da vacina foi desenvolvida e patenteada pela Fiocruz, por meio do
LEE/IOC, e conta com parceria de agências de fomento e empresas, como CNPq e Finep,
entre outros, tendo sua fase de desenvolvimento tecnológico apoiada pelo
Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para Saúde (PDTIS/Fiocruz).
Quem assume a parte industrial do processo é a empresa nacional Ourofino
Agronegócios.
Também
conhecida como barriga d'água, a doença considerada pela Organização Mundial de
Saúde como negligenciada atinge cerca de 200 milhões de pessoas no mundo, 2,5
milhões delas só no Brasil. Transmitida em locais de água doce parada ou com
pouca correnteza, tendo a presença de caramujos infectados, a doença é causada
por parasitos do gênero Schistosoma. O indivíduo infectado apresenta sintomas
como dores de cabeça, enjoos, coceiras, dermatites, febre, além da dilatação do
abdômen (em casos graves não frequentes).
O
tratamento da bilharzíase (nome conhecido no meio científico) é feito com
medicamentos antiparasitários, mas por se tratar de uma doença predominante em
áreas de baixa infraestrutura sanitária, a reinfecção é um dos pontos graves.