Pesquisas realizadas na área da Educação apontam que, em geral, o
desempenho dos alunos da rede pública de ensino na disciplina de língua
portuguesa não tem atingido resultados positivos.
Segundo os dados do De Olho
Nas Metas, realizado pelo Todos Pela Educação, o índice de alunos com
aprendizado adequado em língua portuguesa no Ensino Médio se manteve estagnado
em 29% nos últimos anos.
A vivência da sala de aula confirma as estatísticas
nacionais: nas escolas da rede pública é comum encontrar adolescentes e jovens
desinteressados pelas atividades voltadas somente ao aprendizado da gramática
normativa, desestimulados para a prática de exercícios de leitura e escrita.
A professora de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), Neide Luzia de
Rezende, destaca que para lidar com os desafios da atualidade os professores
precisam reconhecer que os alunos estão totalmente conectados aos meios
eletrônicos. “Nós temos um novo contexto social e de práticas sociais do jovem,
isso tem a ver com outros suportes para os métodos de leitura e escrita. No
polo da aprendizagem, podem surgir questionamentos se essas novas práticas são
mais superficiais do que as de antigamente porque, hoje, existe um investimento
na simultaneidade das informações e não na sequencialidade, como conhecemos
tradicionalmente, mas os alunos estão imersos em outra realidade de
desenvolvimento da linguagem”.
A formação profissional do professor muitas vezes não está de acordo
com o processo de aprendizagem do aluno, com as metodologias e a didática dos
conteúdos nas aulas. “Existe uma formação muito variada entre os professores e
não é possível afirmar que todos não estão ensinando ou são antiquados. Uma
parte dos professores, de fato, não acompanha essas novas práticas sociais que
o aluno vivencia. Os profissionais com formação mais antiga acabam ficando
vinculados às práticas e conteúdos mais cristalizados, não acompanhando a
renovação, os novos paradigmas de ensino”, salienta Rezende.
No âmbito na língua, segundo Rezende, tem se tornado hegemônico o
entendimento de que não se trabalha mais com um conteúdo exclusivo de gramática
normativa. “O texto é o ponto de partida para o ensino da língua e devemos
considerar seus aspectos linguísticos e discursivos. O que esse texto diz sobre
o lugar em que ele aparece? A que ele se refere? Temos textos advindos de
diferentes esferas e atividades. Os gêneros textuais são apresentados em sala
de aula supondo que o aluno terá contato com o conteúdo e, ao mesmo tempo, será
capaz de reconhecer os aspectos linguísticos e a gramática que o sustenta,
levando em conta que o texto advém de uma parte da sociedade e traz elementos
para serem estudados”.
Hoje, no ensino de língua portuguesa, há uma extensão para a aprendizagem
e outra para o social. As duas estão intimamente ligadas, explica Rezende. “Se
o professor trabalha com notícia ou editorial de jornal, que são textos
recorrentes na sala de aula, ele não pode trazer aquilo como texto desvinculado
de um contexto. No caso do texto jornalístico é interessante que o aluno tenha
contato com o meio onde isso aparece, para que ele possa ler e também praticar.
O professor pode trabalhar de uma forma que o aluno traga elementos do seu
cotidiano, escreva e organize em texto os dados que ele possui. É preciso
estabelecer uma relação entre o que está dentro e fora dos muros da escola,
isso traria dinamicidade e riqueza para a aula”.
Partindo desta familiaridade que os alunos do ensino médio têm com as
diversas mídias e tecnologias, a professora de língua portuguesa do Centro
Territorial de Educação Profissional Recôncavo II – Alberto Tôrres e do Colégio
Estadual Landulfo Alves de Almeida, Abigail dos Santos Fonseca, decidiu
investigar e desenvolver, em 2010, uma metodologia com o uso de um blog como
ferramenta de interação e aprendizagem no ambiente escolar.
O projeto levou em
consideração os novos modos de aprender, bem como o papel do professor na
formação de seres humanos capazes de exercer plenamente a sua cidadania.
Fonseca percebeu que seus alunos tinham dificuldade nas aulas de
português – e reclamavam disso com frequência – pela falta de interesse e
estímulo que eles sentiam em relação à leitura, compreensão e produção textual.
“Não adianta a escola fazer algo que não seja parte da realidade do aluno,
precisamos envolver, mediar e criar situações de aprendizagem. A leitura e a
escrita, hoje, não são responsabilidade apenas do professor de português.
Hoje,
nós temos a mídia que pode ser nossa aliada ou inimiga, tudo depende da forma
como se trabalha. Por exemplo, em um debate que fizemos na sala de aula, os
alunos falaram sobre a morte das bibliotecas e questionaram por que as redes
sociais não são utilizadas para fomentar a leitura. Eles sentem a dificuldade e
têm consciência da realidade”.
Os textos e os assuntos abordados nas aulas eram estendidos nas
postagens do blog. “Uma vez eles leram o romance Iracema, de José de Alencar,
nós discutimos e eu lancei algumas questões sobre a cultura da personagem, o
que eles fariam em determinadas situações, no blog. Isso foi uma forma deles
emitirem opinião sobre o assunto, ainda que de forma desordenada inicialmente.
Eu enfatizava para eles que cada situação exige uma linguagem diferente e a
produção depende do lugar, do público e do momento que estamos vivendo”,
explica Fonseca.
Fonseca também acredita que é preciso romper as barreiras do uso da
tecnologia no contexto escolar. “Muitas vezes existe o comodismo, o medo do
novo e o professor não consegue chegar até o aluno. O governo tem investido na
tecnologia na escola, mas precisamos ter cuidado para não acharmos que a
informatização irá mudar a Educação. Na verdade, tudo depende da forma como o
professor encara, administra e forma objetivos com as novas ferramentas. Além
disso, gestão educacional precisa ter uma visão ampla e não ficar presa ao
tradicional e sistemático. Não adianta apenas nos preocuparmos com conteúdos
específicos, temos que ajudar o aluno a produzir conhecimentos que vão servir
para ele na sociedade e ensiná-lo para a cidadania”.
Para a professora de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Feusp,
Neide Luzia de Rezende, os profissionais da educação que conseguem realizar um
trabalho mais autônomo, que aproxime os alunos, mesmo seguindo as orientações
do material fornecido pelas secretarias de educação, tem mais chances se
conseguir resultados positivos. “A ideia de trabalhar com projeto é rica porque
permite a reorganização ao longo do tempo, mudanças de acordo com cada edição.
O valor disso é o planejamento das ações e a integração com a comunidade
escolar. É preciso ter uma concepção, mecanismos de avaliação constantes e
elementos da vida social para entrosar o aluno. O movimento de dentro da escola
para fora por meio da linguagem é fundamental. É preciso entender a prática e a
crítica dos alunos em relação à escola, ouvi-los. Isso não quer dizer ficar no
mundo deles, mas partir da colaboração e avançar junto com eles”.