terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tecnologia em sala de aula: entrevista com Cida Narloch, assessora pedagógica do sistema educacional Família e Escola


As escolas hoje se encontram num impasse. Se por um lado as tecnologias estão cada vez mais diversas e de fácil acesso, por outro os professores ainda encontram problemas na hora de utilizá-las dentro da sala de aula. Seja pela falta de conhecimento, pela escassez de equipamentos ou por outros problemas, a utilização de computadores, notebooks e tablets na sala de aula ainda pode melhorar, e muito, no Brasil.

Para Cida Narloch, assessora pedagógica do sistema educacional Família e Escola, o primeiro passo para os professores poderem fazer um bom uso das tecnologias na Educação básica é o planejamento: preparar a aula, a ferramenta e o conteúdo. Com uma aula estruturada, o educador sentirá muito mais facilidade para lidar com os computadores e tablets dentro do ambiente escolar.

Além disso, Cida, que foi uma das palestrantes da VI Maratona do Ensino Infantil realizada pelo Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), defende também que é preciso desmistificar a tecnologia para o professor, afirmando que o educador não está na sala de aula para ensinar informática e sim para utilizá-la para ensinar a sua matéria.

Gestão Educacional: Quais são as vantagens que as tecnologias trazem, principalmente para o processo de alfabetização das crianças?
Cida Narloch: O professor tem em mãos uma ferramenta poderosa de tecnologia educacional, que é o computador. Mas o computador, por si só, não trabalha. Ele precisa de produto, de software, de programas, de sites da internet. Se o professor busca isso, filtrando e contextualizando esse conteúdo dentro de um planejamento, o enriquecimento, o resultado que ele tem na aula é maravilhoso, porque ele está trabalhando com uma ferramenta que encanta a criança. A aula vai se tornar mais lúdica e mais atrativa, mas existe ainda a necessidade do planejamento do professor.

GE: O professor está preparado para lidar com as tecnologias na sala de aula? E caso não esteja, como prepará-lo?
CN: Nós não podemos generalizar que todo professor não está preparado, porque alguns professores se enquadram como imigrantes digitais, mas outros já tiveram uma longa caminhada em relação ao uso das tecnologias. Para os que não são nativos digitais, existem cursos de formação em Tecnologia Educacional, sites e portais. Primeiramente, tem que desmistificar o computador. O professor tem que ver o computador como uma ferramenta pedagógica, algo que vai auxiliar no planejamento dele e no qual ele pode trabalhar o conteúdo. Então, quando recebe a formação, o professor vai experimentar todas essas situações de aprendizagem e vai conseguir visualizar o aluno explorando essa ferramenta.

GE: Como o professor pode trabalhar a questão do diálogo com a criança chamada de nativa digital para que não haja problemas de comunicação?
CN: Na realidade, a comunicação do professor com o aluno – imigrante e nativo digital, respectivamente –, não compreende uma linguagem específica. O educador tem uma linguagem própria de professor, que é a linguagem pedagógica. É essa mesma linguagem que ele vai utilizar no laboratório, porque ele não vai dar aula de informática. Ele só utiliza o computador como recurso. Ele não vai ensinar recursos tecnológicos e nomenclaturas difíceis. O professor vai trabalhar no laboratório de informática o mesmo conteúdo que trabalha em sala de aula, tanto que é importante que o laboratório seja, na verdade, uma sala de aula informatizada e não um ambiente cheio de máquinas em que a criança entra só para brincar. Ou seja, se esse professor se preparar, ele vai perceber que a linguagem é a mesma: ele vai falar sobre os mesmos eixos de trabalho que planejou para trabalhar o ano todo com o aluno. Ele só vai escolher qual momento trabalhar isso. Por exemplo, ele vai pegar um programa lá no computador que fala sobre animais, porque está na sala de aula falando sobre os animais. Então o professor vai procurar um programa ou um site que também fale disso, para que o laboratório seja uma extensão da sala de aula.

GE: A internet é considerada um ambiente virtual bastante dispersivo. Quando se fala de crianças, que se distraem facilmente, fica pior ainda. Como evitar a dispersão que a internet pode causar na escola?
CN: A criança, para trabalhar, precisa ter foco. E esse foco quem dá é o professor. Antes de o educador levar o aluno para o laboratório, antes de pedir para o estudante acessar um site, essa página tem que já estar filtrada dentro do planejamento do professor. Aí o professor vai direcionar. E para o aluno, é importante que ele registre, faça anotações. Se o professor solicitar um registro do aluno mediante aquela situação de aprendizagem que está sendo explorada naquele momento, o aluno não vai sair daquele foco porque ele tem uma tarefa a cumprir. Vamos supor que o professor está trabalhando no mês de maio, o Dia das Mães, e vai pedir para o aluno fazer um cartão. O professor, portanto, já tem que dizer para a criança qual é o site com os modelos de cartões, e o aluno vai entrar naquele site. Se ele tem uma tarefa a cumprir naquele site, não há necessidade de sair abrindo outros. O professor tem que ter esse direcionamento, tem que intermediar o tempo todo. Se o educador deixar livre, o aluno vai acessar tudo e nada ao mesmo tempo.

GE: Como o professor deve escolher as atividades e jogos que serão utilizados? Como deve ser o processo de raciocínio dele nessa seleção?
CN: O professor tem o planejamento, que é exigido pela escola, e tem todas as suas aulas planejadas. Então ele precisa saber que recursos tecnológicos a escola oferece. Com isso, o educador insere esses recursos tecnológicos no planejamento. Portanto, ele não vai buscar um recurso que a tecnologia oferece. O professor deve inserir o conteúdo dentro dessa tecnologia. Muitas vezes, ele vê a tecnologia como o computador, só que a tecnologia não se resume só a isso. Se o professor fizer um levantamento com os seus alunos sobre o que eles têm de tecnologia dentro de casa, ele vai descobrir muitas [outras] tecnologias. O aluno vai citar que ele tem em casa o computador, o fax, a máquina calculadora, o celular... E dentro da escola ele vai citar que tem o computador, o netbook, o iPod e por aí afora. É uma imensidão de recursos tecnológicos. O professor tem que focar esse recurso tecnológico dentro do seu planejamento. Ele só precisa adequar.

GE: Na sua opinião, as tecnologias irão substituir o material didático tradicional, como livro, caderno, lápis e caneta, ou elas funcionarão mais como um suporte para o professor?
CN: Jamais a tecnologia vai substituir o material didático. Ao contrário: ela vai precisar muito mais destes recursos porque a tecnologia, por si só, não faz nada. O que eu tenho? Vamos supor, eu tenho um hardware, um computador, um notebook, um tablet. O que eu tenho lá dentro [do hardware]? Recursos que vêm de algum lugar, que têm que sair de algum lugar. Ele vai precisar do autor, do professor, de todo esse volume de atividade para colocar lá dentro. Então como que eu vou extrair esse conteúdo se ele não vem de algum lugar? Ele tem que ter uma fonte, por isso ele não vai substituir o livro. Pelo contrário, [esse conteúdo] vai precisar muito mais dos livros. Nós não podemos ignorar toda uma história da Educação. Há quanto tempo existe o giz? Ele ainda está lá na escola. Ele ainda é importante. Nós já temos nas salas de aula de muitas escolas a lousa digital, mas a lousa digital não dispensou a lousa tradicional. A caneta ótica não dispensou o giz, ele continua lá, ele continua sendo importante. Eu acredito que tem lugar para tudo e para todos dentro da Educação.

GE: Seguindo nesta linha, como aliar então a letra cursiva, que alguns estudiosos acreditam ser algo antiquado, com o uso das tecnologias?
CN: Como eu disse antes, nós não podemos ignorar a nossa história. Inicialmente, nós aprendemos a escrever, não a digitar. Eu aprendi a ler, eu fui alfabetizada, eu aprendi a escrever, isso tudo numa sequência. A criança começa com a letra em caixa alta. Depois, aprende a letra cursiva. Hoje tem uma fala no mercado que diz que a letra que encontramos na mídia é a letra de máquina, mas a criança precisa da letra cursiva porque, com ela, o professor trabalha a coordenação motora fina da criança. Ela vai exigir um pouquinho mais da criança, que precisa ter este recurso e desenvolver isso. Portanto, eu vejo que a letra cursiva ainda é importante, embora a criança tenha as letras todas nas teclas. Mas eu penso que o homem existiu antes da máquina e aprendeu a escrever antes da máquina. A máquina hoje é importante por agilizar o processo, mas eu não dispenso a letra cursiva.




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