Cidade pode ser próxima Nova York, mas sua população está presa no
trânsito, diz David Sim, sócio do Gehl Architects, escritório que fez de
Copenhague um modelo
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David: SP precisa de planejamento onde quem constrói devolve algo positivo para a cidade (Foto Divulgação) |
Por muito tempo, os planejadores e urbanistas construíram cidades para
serem vistas de uma escala sobre-humana, do alto de um avião. O arquiteto
escocês David Sim faz o inverso, ele projeta em escala humana. Longe de ser um
dom, a habilidade foi adquirida a partir de anos de observação da vida em sua
manifestação mais cotidiana: na maneira como as pessoas andam pelas ruas, vão
ao trabalho, pegam o ônibus ou o carro, atravessam um cruzamento e se divertem
em um parque.
Arquiteto especialista em urbanismo, David é sócio do escritório
dinamarquês Gehl Arquitects, que fez de Copenhague exemplo mundial de cidade
sustentável, uma transformação que começa nos anos 1960, protagonizada pelo
urbanista que dá nome à consultoria, Jan Gehl, hoje com 76 anos.
"Todo nosso trabalho se desenvolve em torno do princípio da humanização
do espaço público", explica Sim. Com uma carreira dedicada a essa ideia,
ele sabe dizer se uma cidade é boa ou não para pessoas. Sua receita para
melhorar São Paulo ou outra grande metrópole? “Dê mais tempo para as pessoas”.
Em passagem pela cidade para participar do 4ª Greenbuilding Brasil, o arquiteto
conversou com EXAME.com.
EXAME.com - Como você define projetos baseados na humanização das
cidades?
David Sim - Hoje em dia, há uma grande preocupação com se construir
prédios sustentáveis e mais eficientes no consumo de energia. Mas nossa maior
preocupação é o que acontece no espaço entre todos esses prédios verdes, que
tipo de vida você tem nas cidades. Diferente de muitos arquitetos que estão
apenas focados nos prédios como objetos, monumentos, nós queremos construir
coisas que afetam a vida das pessoas.
Estamos interessados no dia a dia, em todas essas coisas meio banais e
simples. Como se atravessa uma rua? Como você faz compras no supermercado? Como
os filhos vão para a escola, como você vai ao trabalho? O que você faz na hora
do almoço? Porque são todas essas coisas da vida cotidiana que compõem a nossa
vida.
EXAME.com - Mobilidade é tema central nos grandes centros urbanos.
Segundo estudo do IBGE, um morador de São Paulo perde pelo menos 17 dias preso
no trânsito por ano. O que isso diz sobre a cidade?
David Sim - O transporte é um desafio aqui. São Paulo é provavelmente
o dínamo da economia na América Latina e, quem sabe, na próxima geração, pode
tornar-se a nova Nova York do mundo. O potencial que a cidade tem é imenso.
Porém, a maior parte da população está presa no trânsito. E isso pode
ter grandes consequências, com empresas mudando para outros lugares, uma vez
que seus empregados também não querem mais ficar na cidade, por sentirem que
estão perdendo qualidade de vida.
Clique aqui para ler na
íntegra a entrevista feita por Vanessa Barbosa para o Exame.com