A diretora-geral do Instituto Politécnico Nacional
do México, professora Yoloxóchitl Bustamante Diez, fez uma defesa enfática de
políticas de ação afirmativa para ingresso nas instituições de ensino superior
do seu país. Segundo ela, em um mundo marcado pela diversidade cultural, as
instituições de ensino superior precisam refletir o contexto da
multiculturalidade. Para ela, Educação não é apenas transmissão de
conhecimentos, mas fundamentalmente processos de socialização sucessiva de
gerações. Por isto, é preciso socializar as gerações nos contextos
multiculturais.
A fala da diretora ocorreu na abertura do III Foro
Internacional de Multiculturalidad, realizado na Cidade do México, evento que
este blogueiro participou na semana passada [final de agosto de 2012]. A
diretora citou, como exemplo positivo, a aprovação pelo Congresso brasileiro,
da lei que institui as cotas sociais e raciais nas universidades federais
brasileiras. Outra medida importante lembrada pela diretora-geral foi o projeto
das universidades interculturais no México.
Estas instituições de ensino superior têm como
objetivo principal a formação de intelectuais comprometidos com o
desenvolvimento local – para isso, o sistema de ingresso procura refletir a
diversidade étnico-cultural da região, bem como os projetos desenvolvidos
priorizam temas vinculados às demandas da comunidade. Como o programa é
recente, a diretora afirmou não ter ainda elementos para avaliar a sua
eficácia.
De qualquer forma, vai ficando nítido que o modelo
clássico de universidade de formação de uma elite intelectual dissociada da realidade
e que se legitima única e exclusivamente pela erudição e pelo repertório
acumulado perde espaço. A luta pelas ações afirmativas feita pelo movimento
negro brasileiro está impondo a discussão de um novo modelo de universidade.
Infelizmente, percebe-se, ainda, a pequena participação de organizações não
ligadas diretamente ao movimento anti-racista neste debate – entidades
estudantis, de docentes e de servidores das universidades não colocaram este
tema no centro das suas agendas políticas.
A organização Educafro lançou um
mapa das ações afirmativas
nas instituições de ensino superior (IES). Segundo levantamento da entidade,
atualmente 129 IES tem sistemas de ações afirmativas, que vão desde cotas
sociais e raciais a bônus ou outros mecanismos de atendimento especial para
determinados segmentos. Segundo a entidade, o número grande de instituições que
adotou este mecanismo é fruto da pressão do movimento negro organizado pela
democratização do acesso ao ensino superior.