A opinião é da diretora executiva do Movimento
Todos pela Educação (MTE), Priscila Cruz, advogada que atua na defesa da Educação
de qualidade há dez anos. Segundo ela, o critério usado pelo IBGE para definir
analfabetismo não leva em conta o nível de proficiência dos alunos em leitura e
escrita.
“Alfabetização é muito mais do que escolarização.
O IBGE olha os jovens e adultos com mais de 15 anos, aqueles que têm quatro
anos ou mais de escolaridade já é considerado alfabetizado. Mas como a gente
tem uma qualidade de Educação muito ruim no Brasil, o que acontece é que tem
muita criança de 11, 12 anos, jovem que está no ensino médio com 15, 17 anos,
que ainda é analfabeto. Infelizmente isso ainda é uma realidade no nosso país”,
explica Priscila.
Ela disse que uma das metas do MTE é que toda
criança esteja plenamente alfabetizada aos 8 anos de idade, o que não ocorre
atualmente. “A Prova ABC (uma parceria da Organização Não Governamental (ONG)
Todos pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro, a Fundação Cesgranrio e o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostrou que, das
crianças de 8 anos no Brasil, só metade é plenamente alfabetizada. É um dado
bem diferente daquele do IBGE. É diferente fazer a prova e testar ou perguntar
quantos anos de estudo tem e ela ser considerada alfabetizada”.
Priscila admite que houve avanços. Porém, eles
ocorrem muito devagar. “A gente vem melhorando só que num ritmo muito lento. Se
a gente tivesse num patamar mais alto, melhorar lentamente não seria tão ruim.
A gente está num patamar muito baixo e melhorando muito lentamente, vai demorar
muito pra gente conseguir garantir o direito de todos os alunos a ter Educação
de qualidade”.
A diretora da ONG aponta que, apesar de 98,2% da
população de 6 a 14 anos, correspondente ao ensino fundamental, estarem na
escola, se for levado em conta desde a educação infantil até o ensino médio, o
Brasil tem 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola. A situação é pior
entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio.
Nessa faixa etária, a taxa de escolarização caiu de 85,2% em 2009 para 83,7% em
2011.
“O ensino médio vive uma crise de identidade:
esses alunos não veem sentido nesse ensino médio, acabam evadindo, saem antes
do tempo de se formarem e a gente está perdendo esses jovens. São jovens que,
na sociedade atual, século 21, sociedade do conhecimento, não concluíram nem o
ensino médio, é ter aí um extermínio de jovens”, alerta Priscila.
A diretora executiva do Movimento Todos pela
Educação lembra que existem experiências de outros países e também dentro do
Brasil que apontam caminhos a serem seguidos para melhorar o desempenho dos
alunos.
“Acho que tem de investir em professor: eles são
muito mais formados para serem teóricos da Educação. Tem que ter um maior
número de escolas em tempo integral, tem que ter avaliações que realmente
ajudem os gestores a formularem suas políticas e incorporar a avaliação como
ferramenta para avançar”.
Fonte Agência Brasil