A proposta é parte de um estudo que recomenda
políticas públicas com foco em florestas
Um grupo de 36 grandes empresas no Brasil está
sugerindo ao governo que coordene suas políticas fiscal e de crédito de modo a
estimular a economia de baixo carbono, ambientalmente mais limpa e que emita
menos gases-estufa. A proposta é parte
de um estudo que recomenda políticas públicas com foco em florestas. É assinado por bancos, siderúrgicas,
fabricantes de cosméticos, empresas químicas e de telecomunicações e será
lançado hoje, em São Paulo.
"Não dá para esperar o desenvolvimento de uma
economia de baixo carbono se o governo concede créditos mais atraentes para
atividades que emitem mais", diz Renato Armelin, coordenador do programa
sustentabilidade do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio
Vargas, o Gvces. Esse é o núcleo que
coordena as Empresas pelo Clima (EPC), uma articulação de empresas que busca
soluções para questões climáticas com base em critérios sustentáveis.
"A ideia é que boas práticas florestais sejam
privilegiadas em detrimento de atividades intensivas em carbono", continua
o biólogo e administrador de empresas Armelin.
O estudo "Propostas do Setor Empresarial de Políticas Públicas Para
uma Economia de Baixo Carbono no Brasil: Florestas" não diz, mas outros
trabalhos indicam que a maior parte do crédito agrícola na região amazônica é
dirigido à pecuária extensiva, atividade identificada como um dos vetores do
desmatamento da floresta.
O estudo de 40 páginas enumera nove propostas para
que as florestas possam ser manejadas de forma mais sustentável. Segundo o inventário nacional de emissões,
61% das emissões de gases-estufa do Brasil estão relacionadas a desmatamento ou
atividades que promovam a mudança do uso da terra - como a modificação de uma
paisagem agrícola para uma urbana ou a remoção de uma floresta para uso
agrícola. As maiores oportunidades para
o Brasil cumprir sua meta de redução de emissões está nas florestas. "E se existe uma meta de redução
nacional, e se não for obtida com a redução do desmatamento, indústria e
agricultura serão mais pressionados para que se atinja a meta", argumenta.
Outra proposta do estudo é promover o mapeamento
de áreas prioritárias para a recuperação florestal, considerando a sua vocação
para agricultura ou conservação. "O
mapeamento daria mais foco à tomada de decisão sobre a floresta, seria um belo
subsídio."
Outra sugestão é que o governo federal faça uma
normatização definitiva sobre instrumentos econômicos que valorizam a floresta,
como o marco legal que promova a redução de emissões por desmatamento e
degradação (conhecido por Redd) ou a prestação de serviços ambientais
(PSA). O que existe hoje são legislações
estaduais sobre esses temas, mas não há normatização federal. "Ela é necessária para que as empresas
possam ter clareza para apoiar as decisões que envolvam florestas",
explica.
As empresas pedem também estudos para o
aprimoramento nas técnicas para medir a emissão de gases-estufa relacionados a
atividades florestais e mais investimentos para promover a regularização
fundiária e combater a invasão de terras.
Outro ponto é o estímulo à exploração dos diferentes potenciais
econômicos das florestas. "Floresta
não é só estoque de carbono e madeira.
Ela presta diversos serviços à sociedade", lembra o
coordenador. Podem ter, por exemplo, uma
exploração relacionada ao ecoturismo e lazer.
A EPC agrupa empresas de setores diversos, como o
HSBC, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco, a Vale, Petrobras e Braskem, a Natura e
o Boticário , Vivo, Oi e TIM, AES, Brasil Foods e EcoRodovias.
*Fonte Valor Online